domingo, 19 de junho de 2011

Sobre as palavras de ontem

Eu te amo. Dito assim, dispensando as honrarias preliminares e os caminhos da simpatia e da paixão, sem deixar escaninhos onde brotariam as entrelinhas. Eu prefiro assim, pra te pegar de surpresa, ainda com as roupas de acordar, sem brincos e sem as desculpas de costume. Sem ao menos saber-se única e sem apelos para os teus panos e solicitações pueris. Deixo, tenso entre a minha frase e o teu ouvido, um silêncio que se arrasta como um bicho de umidade, e que devagar vai nos enlaçando com seus caminhos luminosos.

Podem ser apenas palavras ajeitadas em uma frase já encardida de tanto uso indevido em cartas amareladas e canções estéreis, mas que guarda um frêmito de beijo primeiro dado pelas costas da santa igreja, demasiado ardente pra se usar em qualquer ocasião. Mas eu a usarei sempre que no final de cada espera eu ganhar os teus olhos tingidos pelo dia. Ela sairá da minha boca junto com o cheiro da goiaba e confundida com as tuas poções benfazejas. Direi até o ocaso da linguagem. Até que os desejos olvidados estejam plenamente satisfeitos. Até que as perguntas descansem nos cobertores noturnos que inventarmos. Até que a tua marca me cure da ferida que esqueci. Mesmo assim direi eu te amo, pois tudo que emana de ti, chega-me como remédio e salvação.

WDC

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo poema...

RSK