Acolho teus insultos, teus gritos, tua risada de troça que afirma: jamais serei capaz de ser feliz. Sugo o dulcíssimo liquido da tua bravura, da tua raiva aplicada a este caderno livre de pautas, de nomes, da sofreguidão dos que buscam a reserva dos céus.
Observarei um minuto de silêncio pelo que morreu em ti ou por aquilo que, sujo demais, magoado demais, não consegue ver as asas da borboleta do infinito a passar em meus versos, em minhas declarações mais advertidas de não serem próprias ao saber dos outros.
Meus olhos estão no chão de teus passos, esperando que passes e me vejas sentado, ornando os vincos do cimento da rua com minhas lágrimas mais sentidas. Não saborearei os doces comprados enquanto não passares e sentires que sinto o que vem de ti igualmente. Não.
Minhas costas são tuas para as chicotadas que quiseres. Meu corpo usufruto de tua pior autoridade. Não me importo. Desenha, à lâmina do destino, os traços caóticos do que eu risquei em tua alma, do que eu usurpei das tuas tripas.
Mas antes do fim, pouco antes daquela derradeira agonia por tantas escórias que me atirares, me beija. Usa o único lugar limpo que eu tiver para o beijo de piedade de quem esqueceu e se superou. Se isso for possível, terás cumprido tua missão de maneira eficiente.
Senão, limpa minhas feridas e me serve um chá. Podemos começar tudo de novo. Ir até bem antes do tempo e começar pelas humílimas palavras: meu nome é teu/ o meu é tua. J.M.N.
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