terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Dez Encontros (VI)

Pros amigos que fiz em Recife, em especial 
pra Fernanda, minha amiga invisível e distante



Saúdo aqueles que tornaram essa cidade navegável. Domesticado o mar pediu licença à terra e se acomodou à paisagem. Éramos vinte e tantos solitários, trajados com o peso da falta que as raízes fazem. Pisamos aquelas pedras seculares a buscar um no outro um improvável cais. Encontramos vazios, horizontes e ruas com amarelinhas quase apagadas. Muitos redescobriram o galope do coração a bombear sangue para as veias mais antigas. Eu revi o verde obsceno do mar e quis morar naquela árvore rosácea e alta. Ou me tornar alguma janela de Olinda. Aquele outubro tinha dons de eternidade. Nosso itinerário era pro rumo do que nos enrodilha e salva. Mal sabíamos que essas coisas minerais e essenciais não se dão à flor dos percursos. E novembro se avizinhou. Forçamos um sorriso e olhamos pros próprios sapatos a odiar secretamente o tempo. Enganchados. A hora dos acenos não precisava ser tão dolorida. Mas foi. Muito. A cidade fazedora de laços intrincados mostrou-se tecelã de incômodos vazios. Virou ímã, virou bússola. Norte dos afetos e passos. Foi pra isso que essa cidade nos engoliu. E pronto. wdc

Recife, 2014.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Te perdoo

Te perdoo pelos ares que sopras,
expiando possibilidades
 
Toda nossa condenação
 
Te perdoo pelo aço, pela lâmina atirada
desde as tuas tardias palavras
 
Certeiras, fincadas, no alvo do meu perdão
 
Te perdoo, coração, pelas tantas cicatrizes
E as mais costuras de redenção
 
Te perdoo como nunca mais quis
 
Como as setas de Cupido, como o sangue
embebido na despedida de agora
 
Te perdoo como quem mora
 
Em todo teu amor,
esquecido