terça-feira, 28 de novembro de 2017

Quase nada e o mundo inteiro

Persigo as peças que faltam. Corrijo rumos. Sobretudo, eu me adianto nas minhas estranhezas. Adentro culpas, precipícios e iguarias resultantes do assalto à tua blusa, o que eu encontro por lá. Depois, minhas mãos paridas dentro do delta. O teu. Úmido que saio. Tão cansado e cheirando a nós em novelo e arrebatamento. Uso primeiro uma cota de cansaço e depois a tragédia. Digo que já vou. Para sempre. Espero teu choro, mas ele não vem. Forcei demais. Eras minha havia minutos. Volto a tentar temas. Parnasianismo barato. A forma pela forma. Mas resistes. E eu me deparo com a coifa de uma raiz que me vai rasgando. É a tua presença. Violenta e quase repugnante. Volto da rua mais de uma vez. E vou deixando os pertences. Regurgito crimes, Manoel de Barros e outros tantos alaridos. Priscando, priscando, sempre em centelha e devaneio, sou um sonho por inteiro. Volto para antes de saber o que fazer com meus pertences. Minha carne, meu suor (que provocas mesmo parada, mesmo seca), minha língua intransigentemente posta a serviço de te pedir desculpas. Pelo que eu não fiz ainda, talvez pelo que nunca farei. Pois, afinal, não moves um músculo sequer. Não percorres a distância quase infinita entre eu te abraçar e tu me teres. Toda molhada, cheia de vinho pelas ancas e olhos, teus pelos, sentinelas, esperando minha derrota. Amontoados no centro perfeito da tua arquitetura. As mãos descompromissadas com o mundo e com meu amparo, em forma leve, dedos em leque, como as mãos dos estudos de escultura de um grande mestre. Tua leveza me enfarta. Eu te cheiro. Intensamente. Como quem cheira a terra no cio. És toda meu cio. És o romper bravio das ondas de um maremoto. E sinto teus tentáculos me enchendo. Deflorando. Vou ficando fêmea também. Muitas coisas eu fico. Fico em cima do meu desespero, lacerado por minha ignomínia. Sujo, apelando por uma mão que me salve. E, finalmente, estás. Não me tomas, não te mexes. Não existo mais. E o que me lembro é de acordar cheirando a nada. Desavisado do fim da estrada. Oculta apenas por um trapo, minha vergonha. Levanto de onde estou e fico frente à frente com o que se me sobrou. Enquanto limpas a mesa, ajeitas os cabelos e ordenas os discos que ouvimos, escuto larilás, teus lábios infernais entoando as músicas que eram apenas minhas. Sem força e sem vontade digo minha nova fome em voz alta – eu quero uma eternidade contigo. – Desculpa amor, só posso ficar até as três. É o que dizes. É o que tenho. Já me basta. JMN.