Para Romine, com saudade
Como ela descobriu meu corpo, não sei. Como fez para entrar em meus segredos ainda me foge do entendimento. Mas ela em seu sotaque estrangeiro de amor notável veio a mim dentro de uma tarde vazia, nas margens do rio da minha terra, enquanto sonhava em voltar às praias do seu lugar. Mim ká falá nada crioulo, escrevo na minha língua o gosto da língua dela sobre minhas horas naqueles dias que vivemos subjugados pela pertença estranha nascida de nossas caçadas pela pele um do outro. E depois disso me deixou essa herança que partilho agora, originando as serifas de minhas letras vivas, como um rastro compassado de lembrança, saudade potente em lábio marrom, em nudez escancarada e possessiva. Ela me teve com sua boca que jamais saia de férias. E como fui deixar seu rumo não sei. Mas as ervas de sua mão cozinhando me caem às vezes, lembranças sensitivas de nossos encontros. Tudo cheirava ao redor daquela mulher. O mundo tinha gosto de litoral perto dela, os beijos nutrientes como uma cachupa rica. Manera que bo nome minha negra? Grita tua identidade daí de onde estiveres à cata dos ancestrais. São os mesmos meus os reis morenos, as mulheres negras que me liquefizeram a pele dando nosso contraste. Reage à minha saudade e me fere mais uma vez com tua mão de pluma que me dizia sempre estar me esperando, que dizia me amar com tão pouca coisa sabida a meu respeito. Intene sodadi de nha terra. Aquela terra que era teu sono tranquilo depois de nós, aquela terra que foi andar de volta a casa e jamais voltou. Tenho um pedido Nha Crioula: Trazême só um cartinha pá ká pesá na bô mala, avisa se minhas linhas te assustaram ou trouxeram ventos de boa memória. J.M.N.
Para escutar lendo...
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