Sonhou que ela estava viva. Sentada ao seu lado na mesma posição de proteção dos seus anos infantis. Tinha cheiro esse seu sonho em sépia e saudade. Murmurava enquanto dormia o nome dela. A proteção chegava aos poucos.
Enquanto sonhava com ela viva, noutro canto da noite alguém não pregava ao olho. Rodando na cama como um gato amedrontado, ela sentia uma falta que não tinha nome nem lugar. Apenas um aviso ecoando no corpo. Algo faltava.
A visita do sonho acabara com um anúncio. Tudo mudaria em breve e nunca mais os sonhos aconteceriam com a presença dela. Suas noites teriam a substância inflamada do pertencimento.
Ela, de repente, sentiu um frio que a fez diminuir sobre si o medo das coisas sem nome que pensava havia dias. Tudo quietou. A noite distendeu-se em seus lençóis mais macia e calma do que nunca. Finalmente o sono cumpriu sua parte na fisiologia de solidão daquela alma.
Ambos desciam as escadas todos os dias. Checavam a correspondência em escaninhos muito próximos. Mantinham o silêncio um com o outro. Mas naquele dia, surgira um assunto em comum: eu te conheço de algum lugar. Uma afirmação. E assim o dia dos dois começou.
Na última viagem para o exterior, perderam duas vezes seu voo de retorno, de tão bom que era conversar sobre a vida e dormir juntos sem medo ou desassossego. J.M.N.
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