domingo, 13 de março de 2011

"Mulier"

Você é quando já não me escuto, quando sou menos que um átomo perdido entre o caos da matéria. Você é quando eu sou repelido, acontece depois de eu ser dizimado todo dia enquanto faço guerras, acidento automóveis, persigo políticos.

Você me ocorre quando eu tenho medo da vida e sinto falta do útero primeiro. Você me reduz ao seu querer quando eu te coloco na mais destacada órbita planetária dos sistemas. Você é meu sol quando o Equador se esvai dormindo e as terras descobertas pelos patriarcas se enchem de mares de saudade e vintém.

Você não é meu oposto, mas antes o posto que eu quero ocupar. Endereço de ilhoses e flores ornamentais, de crochês e delicadezas diárias que eu jamais saberei compensar com beijos ou carinhos.

Você é quem me viola os segredos abrindo meu peito para as verdades que não suporto mais fazer dormir. Você me toca e eu me denuncio. Você me arranja uma canção e eu trituro minhas mentiras com os dentes. Sou feito para engolir o que você me der.

Você vem e acaba com minha virilidade. Tem gente que duvida que eu me recomponha. Você é a única que tem certeza sobre a minha volta erétil, minha língua dura, meus dedos de retirar entranhas.

Você é tudo o que eu quero e preciso e por isso mesmo te evoco em minhas rezas mais escondidas, esperando que não venha antes de eu sentir que posso; que não vá antes de eu ter lhe dado tudo. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acabamos de falar. Depois do adeus, lembrei que havias dito a mim, um dia a tal frase de Barthes: "A literatura não permite caminhar, mas permite respirar."
Cede-nos mais desse caminhar teu. Eu, de minha parte, estarei a uns poucos metros, lendo-te.

Tereza