“Creio que a verdade é perfeita
para a matemática, a química,
a filosofia, mas não para a vida.
Na vida contam mais a ilusão,
a imaginação, o desejo, a esperança.”
Ernesto Sábato
Sempre preparado aos esquadros e às réguas de cálculo que tudo dimensionavam para si – seu mundo numa equação euclidiana. A verdade, contudo, rajava em seu peito uma cócega que era infinitamente mais rudimentar e selvagem que os números que em seu universo explicavam, inclusive, o amor. Seu exemplo de perfeição era a soma idêntica de dois números dois, formando o quadro arrebatador da igualdade. Jamais disse três mais um, ou dois e meio mais um e meio. Sua adição precisa infernizou sua vida que teimava em apontar outros caminhos e esfregar em sua cara que sempre ra possível pensar diferente, mais isso não era para ele. E quando soube que iria morrer dentro de dois meses, perguntou ao médico: como você sabe que são dois meses? Eu não sei, disse o médico. Era apenas uma conjectura. E finalmente ele viu a beleza da imprecisão. Sabia que morreria, mas não quando, ao cabo de dois meses, dentro de dois meses, a contar? Talvez a doença lhe tivesse soprado seu único vento de vida afinal. E saiu sorrindo do hospital, tratando de somar suas memórias ao canto dos pintassilgos e outros passarinhos que nem conhecia. Antes que fosse tarde demais. J.M.N.
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