terça-feira, 18 de abril de 2023
Efusões
Vamos dormir lentamente, com as mãos procurando saliências. Uma anca desnuda, a nuca enluarada, algum cume de montanha. O sonho aterrisa, é possível rir no túmulo provisório do sono. Onde o mundo derrapou e eu te perdi? Em alguma jaula de mim as coisas se acumulam. O cantor definiu por mim a ilusão do ritmo das coisas que não consigo pronunciar. O poeta me deu a lâmina afiada do delírio. Tenho cá esse projeto incompleto de ser feliz. Só por causa dos químicos é que assentei. Tenho amigos que me amam. Filhos que me amam. E ela que me ama. E sabe tudo o que sou. Só não consigo ser feliz o tempo inteiro (a canção). E a vida, às vezes, é um átomo que se animou (o poema). Esse ano que chega será ímpar. Minha idade também. E se eu posso cantar, pelo menos posso surtar em voz alta. E será Spanish Bombs, durante a virada, embalando o horizonte. Venham lindos 365. Estamos por aqui. A casa, a carcaça e a esperança. Yo te quiero infinito.
sexta-feira, 7 de abril de 2023
Rei
Emborca o corpo no lombo
Do burro pequeno que levou o rei
Sente a majestade do abandono
O caminho de estrelas se abrindo
Ora o rio te endireita e te leva
Ora desmente a vida e te traga
Desce daí menino sem sombra
Dobra o sino em meu louvor
Eu sou a solidão dos tempos
Não levo nada a lugar nenhum
Ora, que o rio te endireita e leva
Nega, e o rio desmente a vida e te traga
A beleza da pobreza é nenhuma
E a realeza que te espera
Só pode sobrar da tua própria entrega
Parta-se para dar tua semente, eu
Chora, que o rio há de compreender
Sonha, senão a vida te liquefaz
Sem leito por onde vagar
Sem caminho que seguir
Assinar:
Postagens (Atom)