sábado, 30 de agosto de 2008

Relembranças

As dores são partes pequenas
de olhares tristonhos e horas de adeus
Meus ditos e verbos e risos vão soltos
barcarolas festivas dos anos em que fui teu

Escrevo este livro para saber que existo
senão a canção era capaz de morrer
Encaminha meus braços em torno de ti
e deixa a memória aberta,
como era, antes de eu nascer

A leveza de Rosália

Rosália, enquanto ele se esquivava dos apertos de mão, ao contrário, prestava atenção e tocava nas pessoas. Era afeita aos encontros e olhares diretos. Enqunto ele falava de ações, política e novidades eletrônicas, Rosália abordava simplicidades nem sempre bem aceitas naquelas rodinhas obviamente chatas. Foi quando narrou o caso do Pedrinho maneta, que roubava carros melhor que os melhores ladrões... e só tinha uma das mãos. Além disso, a outra não era completa, faltavam-lhe o indicador e o mindinho. Coisa horrível; barbaridade; pensei que falaríamos de arte aqui; que é essa? Rosália ouviu esses comentários e respondeu a todos: 1. e 2. tentem vocês roubar um carro com uma mão a menos e outra incompleta; 3. Pedrinho é um artista, nunca foi pego; 4. ora quem! sou a mulher dele... e apontou para o moço que a olhava com cara de reprovação. Direta e terna, Rosália desagradou. Haveria de passar por muitas dessas em sua longa vida e enquanto durou o casamento sempre teve os olhares de reprovação do marido, mas nunca uma palavra rude ou um gesto de contradição emanteve sempre a certeza de que era amada. Fez a festa no enterro do Pedrinho, que era seu amigo de infância, como ele pediu e deixou escrito. Botou na lápide: quero os seus aplausos, já que os meus são mudos. Sua mania de toque rendeu brigas por ciúmes, uns bilhetinhos atrevidos, mas nunca raiva ou destempero. Rosália podia ser. Acho que por isso andava com tanta leveza e quando ela passava todos os rostos mudavam e havia alegrias nos salões de festa.

Margarida

Nunca soube o seu sobrenome. Sequer sabia de seus gostos ou astúcias. Um dia caiu-me nos olhos e pronto, tornou-se uma paisagem constante, depois um estrabismo e depois uma miragem.

Vive num ponto do mapa que tenho na parede. A única marca do papel colorido. É branca, como a pele dela que eu conheci na noite do dia desessete. Acho que me conheces mais do que pensas, ela me disse. Nunca pensei nisso. Só a quis. E acho que ela também.

Eles que amavam tanto a revolução 1

Já se vão 40 anos dos episódios que balançaram o mundo moderno e abriram caminho para tantas inovações culturais e transformações históricas no Brasil e no mundo. 1968 deve ter sido um ano mágico, um ano único. Seus ecos ainda estapam comportamentos, orientam teorias e maquiam uma grande porção das atitudes vanguardistas e libertárias em relação ao sexo, uso de drogas, produção cultural etc.

Hoje, a mensagem daqueles tempos soa, muito mais pelos atores que propriamente pelo script, às vezes hidropônica - saudável, necessária, mas, talvez, sem solo para cultivo!

Este ano, em comemoração aos eventos daquele ano inspirador, a Jorge Zahar editora lançou o livro 1968 eles só queriam mudar o mundo e já pode considerar ter tido sucesso em seu balanço anual. Não que as vendas tenham surpreendido, o que, provavelmente, não aconteceu, mas a atitude valeu o investimento.

O livro de Regina Zappa e Ernesto Soto encanta pela edição em papel revista, variedade de fotos e "colunas" especiais escritas por colaboradores, o que dáo ao livro o ar de jornal em edição para colecionador.

O conteúdo é de uma riqueza natural e as mãos dos autores acrescentaram leveza aos temas mais duros como a tortura no Brasil, a repressão política, a censura, os combates no Vietnã, o plano Burnier, a primavera de Praga e tantos a contecimentos fascinates e terríveis daquele que seria considerado por Herbert Marcuse como o ano da revolução mundial.

A riqueza deste período deveria ser discutida nas escolas, mostrada incansavelmente aos novos estudantes ao redor do mundo, não como um líbelo à nostalgia e ao sentimento de incompletude que parece seguir sua história, mas com a intenção de inspirar, sensibilizar e (re?)mobilizar a todos para mudanças continuem sendo desejadas, sonhos continuem sendo buscados e que, sobretudo, tenhamos a certeza de que podemos mudar o mundo - a qualquer momento. J.M.N.

O ofício de Lázaro

Anda, que sem caminho não há aventura, não há amores.

Senta e descansa como um príncipe fatigado, mas não desiste nunca e atreve-te na conclusão dos teus sonhos e princípios, como se fosses o ferreiro a bater no aço e forjar cumes para abrir o peito do inimigo e ter nisso um ofício digno e a oportunidade de criar fortalezas e defesas próprias. Como se te opusesses a um ato tresloucado de outrem. Apenas um trabalho bem feito e que permita defender teu espaço.

Não te esqueças que isso demanda esforço. Calos nas mãos. Demanda perícia, estudo e mesmo que um dia te enviem para a luta de outros, vai e faz a tua parte. Sê amigo e manda cartas quando estiveres te aproximando de casa, dizendo coisas simples como se teu coração estivesse num azul celeste por estares te aproximando de quem amas.

E depois vai a casa e ama tua esposa. Uma noite inteira escuta as verdades dela. Diz que sim. Repousa no peito dela e encolhe as pernas para ela saber que te pode proteger, mesmo que longe dos olhos dos outros. Ela te pertencerá para sempre e tu a ela, sem força ou brutalidade, sem acertos ou papéis bizarros a definir teus sentimentos e quereres.

Espera, que o dia vem logo a seguir, trabalha de sol a sol e viaja nas marcas da tua labuta. Transporta-te para as pradarias das terras de cima ou para os lagos calmos da tua infância solitária. Lá, não estarás sozinho como antes. Não. Estarás com as palavras que aprendeste e com as paisagens que te comoveram. Terás idade e talvez uma culpa ou muitas. Serás um homem. Conhecido ou não, mas terás o amor. E com isso, podes ser o que quiseres.

Breve história sem tempo

Antes dela, escrevi que para amar era necessário deixar de ser, escapar-se. Amar completamente era desprender-se de si, criar uma entidade. Quase um fantasma. Era exigir dos olhos a certeza, da boca a fartura e crer que o azul celeste é sempre cinza diante dos confins dos olhos dela. Reconheço agora que isto era apenas a terça parte dos insumos. Um doar escasso para a imensidão do amor. Amar é a deserção de si, e ter em gotas o sumo da vida e praticar atentados às certezas de ontem. Armadilhar liberdades, cultivar entregas. Amar mais que tudo e sem caber é como dar o que não se tem e criar dívidas para outras existências e dimensões, para outros eus. É nunca estar, pois este estado é próximo de inexistência - antimatéria. Amor dá luz em pequenos frascos e apreço, muito apreço, menos por si e a quem canta serve o gracejo das melodias. O amor corre nos braços de violinos, violoncelos, instrumentos para poucos. Antes dela escrevi que amar era de verdade a quintessência dessa vida que, ao que parece é mesmo a última. Hoje digo que não sei de mais nada e prefiro deixar as versões escritas para quem tem propriedade de palavras. Eu tenho apenas saudade.

Histórias para depois do sono IV

Aos domingos as brigas eram piores. Razões de ser para mortes desesperadas e amores de urgência ao pé da mesa do café da manhã. Domingo era sempre um dia útil, apesar de tudo, com astral de fim de vida e por isso, parecia que a trama do amor se concentrava mais e mais nos segundos derradeiros das despedidas, ancorando-se nas pontas dos dedos que iam se perdendo um a um enquanto ele descia as escadas e ela entrava de volta em casa, para arrumar sua semana. Era um dia indiscutivelmente superável, mas com quê de necessário. Um limite entre o imaginário de suas esperas e a realidade em si do resto da semana. A linha última entre o eu e o nós, para ambos. Enquanto partilharam domingos, souberam exatamente o que significava viver um para o outro. J.M.N

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Atrás da noite

                                                "Nada há que não caiba no sono:
                                              Um dia vermelho, a dor de nascer sozinho,
                                                         tua vida sem mim, a minha sem ti.
                                                          Pouco há que me revista o tempo:
                                           Teu retrato ferido, tuas mãos a escolher-me,
                                                                       Poentes cantados a dois.
                                                                 O livro dos artefatos do nada

Foi lá para se consultar e terminou apaixonado. Apesar do desastre, nada mudou enquanto ele não disse que sentia saudades. Ela se iludindo porque não sabia se queria ser descoberta e ele assustado sabendo que se perdera. Um típico caso de amor em vieses, mas menos intenso porque a dona da coisa não ardia com inquietações apaixonadas sobre encontros e vinhos adormecentes. No dia do sushi, ele se admirou com a quantidade de coisas que ela podia falar num único minuto. Não conseguia acompanhar o ritmo dela. Deixou-se, por assim dizer, ser conduzido. E foi. Tinha uma certa esperteza e segurança naquelas coisas ditas sempre, em almoços de sábado. O que não havia era a intenção de amar. Pelo menos de sua parte, pelo menos naquele instante. Talvez de ambas as partes as coisas se tenham dado meio ao acaso. Se é que se pode dizer que as coisas ocorreram de lado a lado. Mas ai umas das dores se instalou primeiro.

Vamos aos fatos...

Não coração, prefiro não ir a essa micareta absurda... Muito barulho, pouca intimidade, sabe? Mas olha, posso te oferecer café da manhã, companhia e massagem nos pés. É claro que uma parte desse diálogo foi omitida (aliás, aquela em que era quase um pedido, a história de amanhecerem juntos) e mais ainda, as coisas que insistiam em se formar na cabeça dele... Caso não saibas, detesto carnavais fora de época... Terei que ir um dia desses com você?. Não faça isso, senão sou capaz de aceitar um novo convite. Muito estimulantes essas coisas que me dizes!

Ela mandou esta mensagenzinha maldosa para o celular dele e naquela hora, também o maldito aparelho se acostumou com ela, pois quando ela parou com as confissões medidas, ele teve a impressão de que sua bateria esvaia-se mais rápido a cada minuto de silêncio.

No sábado, depois do susto das descobertas recentes e um almoço intragável, pois sem ela a lhe ensinar malabarismos japoneses, mais uma vez ele fez o papel de entregador. Pôs-se numa bandeja e foi lá ter com ela. Sobrou um domingo inteiro de espera mutua. Depois das desculpas formais a sinceridade de estar se atrevendo a dar com os burros n`água.

Tenho saudades… Quero te ver... Quero mais da tua presença… Mais que qualquer coisa já quista... Um capricho é permitido... Andas muito ocupada com os cuidados para o alheio… Eu ando ocupado de ti... Se me incomoda?... Só quando isso não cabe nos teus dias de semana…

Mas deixando de lado as marmotas do acaso e da grave rebeldia que ela insistia em revestir de distâncias, a semana passou muito lenta.

Foi quando ele percebeu que as coisas eram mais complicadas do que já pareciam ser. Finalmente um grito do hospital de dentro, chamou-lhe para a realidade. Amor, de novo amor. Irremediavelmente. Os sábados não seriam mais os mesmos.

(Problemas e coisas que infestam pensamentos)

“As prestações vencem na segunda. Meus olhos estão murchando. Conto com as coisas inventadas para saber-me decente e merecedor de uma promoção. Minha chefa é uma débil qualquer coisa. Tudo vale no combate à dor de ontem. Quero os doces especiais de um lugar que não conheço. Amor! Acenda-me. Cuide-se, pois eu te quero. Eu não sou ameaça. Ameaçar é verbo que não pronuncias nunca. Deixa-me morar nos teus amanheceres?”.

Um turbilhão de coisas nefastas invadiu a cabeça dele. Para além de todo o rico vocabulário daquela situação de enamoramento, as palavras manobravam seus terrenos e alojavam-se como facas nas suas incertezas. Palavras por dizer: crença, mobília, novidade, viagem, sozinho, toalhas, cremes, costas, batom, esmeraldas, ladrilhos, beleza, tua, eu, quando, sozinho, sozinho, sozinho. Não.

Nas desesperanças daqueles dias infinitos ele deixou escapar-lhe mais saudades. Ela escapou com as coisas de sempre. Aquilo que se tem é o que se dá. O que se pode dar, melhor dizendo. Ele podia mais talvez, dada as circunstâncias e o histórico de baú aberto, sem tempo ou tampa que possa segurar dentro, as coisas que talvez não se deva contar a ninguém. Mas o pouco a se dar, naquele caso, significava um abismo imenso de coisas a fazer, dizer e sentir. Olha, confessa logo, vai! Não queres e pronto. Pára de fingir. Eu não suporto essa agonia adolescente de querer te ver a toda hora. Tô quase para fazer um diário. Enfeitar o calendário com cores absurdas, marcando as datas e lugares onde fomos instantaneamente felizes. Usar expressões do tipo, ficar e beijar longo, como se dizia quando era tudo bom e maior do que amores eternos. Na sétima série tinha mais amores do que os outros. E isso me fazia melhor?

A sugestão que segue é como se eu os conhecesse. Pudesse falar e fazer algo além de registrar essas linhas que contam pouco do muito que era visível estar instalado. É o seguinte...

Que isso acabe. Da melhor maneira. Com ou sem dor, que as coisas sejam atraentes o suficiente para numa noite qualquer daqui a vinte anos, um dos dois possa dizer... Uma vez eu tive esperança de estar amando (ou sendo amado). Dissipem a rispidez das defesas com a ternura quase santa da não despedida. Fiquem. Um no outro. Como pertencentes. Coisas mútuas, apesar de discrepantes. Mas com coragem para as diferenças. Olhem mais. Sorvam mais. Adotem coisas, filmes, animais e papel de pão para as coisas sem importância do dia-a-dia. Leiam clássicos. Deslumbrem-se. Animem-se ao sair de dia e ter a certeza de que terão alguém a espera. Mordaças já não cabem, assim como a escravidão. Não mintam. Digam. Não morram. Vivam-se.

Na sexta-feira, depois de muitos desencontros ele ligou.

- Queria ouvir tua voz.
- Fiquei mal desde anteontem.
- Viste minha mensagem?
- Já depois de um tempo.
- Quase vou ai.
- Ias me pegar de pijamas.
Queria muito. Tem flores ou super-heróis estampados? (Um não dito)
- Amanhã sei que vais estar ocupado, mas te ligo mesmo assim.
- Vou gostar.
- Tudo de bom.
- Pra ti também, mas também liguei para te dizer que não quero que te afastes.
- Isso não vai acontecer.
- Então até. Dorme bem. Como se eu mesmo estivesse ai para te fazer dormir e despertar em segurança (ou não dito). Questão: como deixar de dizer coisas assim?

Ele pensou que as coisas já se passavam e que, de alguma forma, suas esperanças deveriam encontrar um abrigo. Dormiu e acordou como fazem os loucos. Bebeu água. Transformou-se. Aflito que estava pela descoberta de algo novo. Queria contar a ela. Queria invadir seu apartamento de pantufas e cuecas de seda, pedindo-lhe simplesmente para ficar. Como não poderia mover-se daquele cansaço antigo, virou para o lado e cantarolou Tomara, do Vinicius. Torceu para que a manhã lhe trouxesse boas novas e descansou finalmente da sensação de estar sozinho. Mesmo que ela não o pudesse ouvir, foi o mais sonoro dos “boa noites” possíveis. Desfez-se a impressão de abandono e a noite se ergueu como um guia. Atrás dela, um sem fim de estranhos finais felizes, como filmes inacabados e ganhadores de prêmios, esperando para serem estrelados por eles. O sorriso já nasceu sem consciência. Sonhos, afinal, não levam mais que um segundo para trazer alegria.

                                         Swanage, 23 de setembro de 2003.

sábado, 16 de agosto de 2008

Recordações emprestadas

Recordo daquela mulher, correndo atrapalhada pela rua molhada, apressando-se para encontrar com ele. Debaixo da pele o fogo do reencontro. Seu desespero é sentido por todos e os homens que esperam pelo turno de trabalho abrem espaço para que ela passe e se atire contra o portão e peça com os olhos loucos que soe o sinal. Que sua espera acabe. Tinha voltado de uma cela. Desfeita num cárcere úmido em cujas paredes se cabaram sua lágrimas. Sua boca quase sem forma e movimentos. Suas carnes queimadas pela violência do sistema. Suas lembranças ainda explodem como um monte de fotos em sépia, encontradas nos baús da casa de seus avós. A sirene toca. Seu coração dispara. Os olhos todos agora esperam aquele que a fará ser novamente. Em frente à fábrica. Manoel aparece e corre em segundo e meio até a presença dela. Suas forças secam e o corpo dela se abandona nos braços do homem. Seu homem. Todos em volta retiram os chapéus. De joelhos e humildemente abençoam a cena. Um em mil, mas ali, bem à frente de seus olhos cansados de tudo aquilo. Amanda tenta dizer aguma coisa, mas já não há palavras em seus pensamentos, não há músculos que possam erguer palavras em sua boca e expressar a sofreguidão do encontro. Ela penas se deixa acarinhar. Manoel também não fala nada. Ninguém fala nada. Amanda expia. Deixa um último e livre olhar àquele que a esperou sempre.

Enlace

                                            A Wagner e Edna, meus afilhados...

Antes pensava que era coisa rara, umas vezes fajuta, nunca simples ou graciosa. Uma espécie de decreto instituído numa nação para dois e que, segundo os pactos lá escritos, haveriam de mudar as vidas de ambas as partes, sem imposições, talvez até com mutualismos mais que Rousseaunianos. Um papel que às vezes traduz a coisa que se desprende dos olhos quando simplesmente eles se expressam - os olhares?

Eu estava lá. Vi os dois jurando e orando (talvez mais ela, do que ele! Não por seu pretenso ateísmo, mas por sua história, afinal alguns pais são insubstituíveis mesmo), dizendo sins à sua maneira tão peculiar. E vi naqueles olhos que se encontravam mais uma vez, a certeza de que os verei sempre nas mesmas órbitas, ampliando seu espectro de mundo aos olhos de seu pequeno astro-menina.

Fui testemunha. No papel firmei minha crença naqueles olhos que também me econtraram e me atrelaram existencialmente às suas histórias, dando-me quem sabe um capítulo e desfazendo minha personagem (só vós sabeis). Tive tanta sorte de os encontrar que estiveram à minha espera com sorrisos abertos, mesmo quando eu desacelerava o curso inexorável daquela sua conquista.

Queria que minha barata literatura escondesse a obviedade que é meu sentimento por vocês, que desse conta de lhes criar um cenário mais rico ou virtuoso, contudo, deixo de lado o ofício e aqui transcrevo o que lhes quis dizer com toda a pompa e circustância durante a cerimônia e diante dos seus, pois sei que o curso normal de seu encontro se encarregará dos afetos e da escritura dessa história, agora oficial.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Lambarizinho...

Soube naquela manhã que algo lhe faltava. Sentiu o dia esvaindo-se, a noite chegando e alguma coisa continuava errada. Um mês inteiro se passou e ele com a estranha sensação de que alguma coisa ficou para trás. Indefinida. Montada num grande engano que ele não sabia como desfazer. Sentiu tristeza. Conformou-se com as poucas lembranças daquela última noite agitada e sozinha. Concluiu que não era uma forma. Não era um corpo ou uma foto não tirada que lhe faltavam. Não era o retorno, ou tampouco o edredon contra o frio. Era ouvir-se dizer um poeminha infantil àquela que, como ninguém, encheu de lambaris priscados os seus sonhos e deu-lhe os amanheceres mais felizes de toda a vida. Pediu permissão a Manoel de Barros e publicou em seu pequeno jornal de bairro, uma sua cantiga.

"De minha mão, dentro do quarto
meu lambarizinho
escapuliu - ele piscava
priscava
até cair naquele
corixo.
E se beijou todo de água!
Eu se chorei..."

Ele espera que ela sinta-se protegida onde quer que esteja...

domingo, 10 de agosto de 2008

Histórias para depois do sono III

Na distância se conhece a falta, inclina-se ao infinito, resguarda-se imaginações dos tempos antes de existir. Como passarinho, canta-se a pôres-de-sol. Estive a muitas milhas dos teus olhos e nessa imensidão horrível, a cor da noite foi desfazendo e, de repente, estava claro, moviam-se em mim os redemoinhos de reconquista. Mas não saí do lugar. Não apertei o passo. E a distância ficou. J.M.N