Rosália, enquanto ele se esquivava dos apertos de mão, ao contrário, prestava atenção e tocava nas pessoas. Era afeita aos encontros e olhares diretos. Enqunto ele falava de ações, política e novidades eletrônicas, Rosália abordava simplicidades nem sempre bem aceitas naquelas rodinhas obviamente chatas. Foi quando narrou o caso do Pedrinho maneta, que roubava carros melhor que os melhores ladrões... e só tinha uma das mãos. Além disso, a outra não era completa, faltavam-lhe o indicador e o mindinho. Coisa horrível; barbaridade; pensei que falaríamos de arte aqui; que é essa? Rosália ouviu esses comentários e respondeu a todos: 1. e 2. tentem vocês roubar um carro com uma mão a menos e outra incompleta; 3. Pedrinho é um artista, nunca foi pego; 4. ora quem! sou a mulher dele... e apontou para o moço que a olhava com cara de reprovação. Direta e terna, Rosália desagradou. Haveria de passar por muitas dessas em sua longa vida e enquanto durou o casamento sempre teve os olhares de reprovação do marido, mas nunca uma palavra rude ou um gesto de contradição emanteve sempre a certeza de que era amada. Fez a festa no enterro do Pedrinho, que era seu amigo de infância, como ele pediu e deixou escrito. Botou na lápide: quero os seus aplausos, já que os meus são mudos. Sua mania de toque rendeu brigas por ciúmes, uns bilhetinhos atrevidos, mas nunca raiva ou destempero. Rosália podia ser. Acho que por isso andava com tanta leveza e quando ela passava todos os rostos mudavam e havia alegrias nos salões de festa.
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