terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A tudo que continua existindo

Ser aquele que ama é o maior dos medos. É maior que as estradas perdidas dos lugares mais inóspitos desta Terra. É prestar socorro quando ninguém mais quer prestar. E suicidar feliz a vida inócua e realizada. Andar indigente mesmo tendo casa, comida e roupa lavada. Ser o ente que te envida é tratar de morrer antes da morte. De andar por sobre as pontes feito um perdido. Lasso nas manhãs de segunda a sexta, vivo no sábado, abandonado ao teu gosto em todos os domingos do calendário. Ser aquele que te multiplica é a razão de ser desta agonia infinita e da ínfima certeza dos meus passos. É cruzar os mares a bordo de pássaros errantes e sentir os ventos do Atlântico inaugurarem cicatrizes em meus mapas. Espero que venhas e dirijas as distâncias para fora do raio de meus sonares. Quero me encontrar, rumo certo e constante, entre as cobertas de teu estado mais avassalador, mais descontrolado. Quero que amarres meus sapatos, que brinques com minha insegurança. Quero te ver por entre meus contornos vasculares. Quero deter-me na mocidade de teus enganos e admirar tuas desfeitas de mulher. Sempre presente, quero adorar-te a uma perigosa distância, vendo-te retocar a maquiagem, esperando que encontres o sapato certo, a seda de insinuar teus predicados. Ser aquele que espera é ser dentre uns quantos aquele que soube dizer bem perto de tua alma tudo quanto menos entendes, mas desejas. Incessantemente. Com a estúpida impertinência de quem não tem mais nada a perder. J.M.N

Um comentário:

Anônimo disse...

Que amor tão grande, tão entregue!
Adorei, muito lindo

RTD