sexta-feira, 31 de março de 2023

Canção das antigas

Em vez de nós

Uma canção das antigas

A mística voz

Rodando no gravador

 

A dor de perder

De ousar e ficar

Sem você

Ainda me assusta

 

Foi tão bom

Que nem durou

E se perdeu

Dentro da escuridão

 

Um fogo intenso demais

No lixo a razão

E a fera paixão

A sorrir sem igual

 

Em vez de nós dois

A linha imóvel

Da solidão

Ficou esse amor

 

Sem perdão

De lados opostos

Amando segredos

De antes do fim

Ilícita

A dama do filme

Sorriu para mim

E as portas do céu

Fecharam para sempre

Não há santidade em seu corpo

Muito menos escape para o tolo

Que se deu demais

E se perdeu

 

Foi assim que nasci

Na perdição do teu ser

E meu querer deixou de ter

Intenção

Tornei-me um vício para ti

E de nada adiantou

Correr na direção da luz

Acabei como um gim

 

Como poeira que altera

Os sentidos

Acabei em mim

As preces na infância

E a vida que esperava ter

Acabei em pedaços na estrada

A esperar a carona do destino

E ele, assim sorrindo

 

Me levou de volta para ti


(Cantídio)

terça-feira, 21 de março de 2023

Epígrafe para um amigo

 para o José Aremilton

 

Meu medo é esse: ser esquecido

Dar boa noite à escuridão sem eco

Restar-me sem sobremesa ou dia seguinte

 

Toda vida que canta um pássaro, já basta

Encontro bemóis e algaravias naturais

Refaço a cama para o descanso noturno

 

Mas quando um amigo pede palavra

Acena em bytes ou escreve uma carta

Mesmo que não envie, mas me conte

 

É como a vida acudindo a alma

Anunciando sua beleza escancarada

Fico demais sentindo que tenho jeito


Cantídio