Recordo daquela mulher, correndo atrapalhada pela rua molhada, apressando-se para encontrar com ele. Debaixo da pele o fogo do reencontro. Seu desespero é sentido por todos e os homens que esperam pelo turno de trabalho abrem espaço para que ela passe e se atire contra o portão e peça com os olhos loucos que soe o sinal. Que sua espera acabe. Tinha voltado de uma cela. Desfeita num cárcere úmido em cujas paredes se cabaram sua lágrimas. Sua boca quase sem forma e movimentos. Suas carnes queimadas pela violência do sistema. Suas lembranças ainda explodem como um monte de fotos em sépia, encontradas nos baús da casa de seus avós. A sirene toca. Seu coração dispara. Os olhos todos agora esperam aquele que a fará ser novamente. Em frente à fábrica. Manoel aparece e corre em segundo e meio até a presença dela. Suas forças secam e o corpo dela se abandona nos braços do homem. Seu homem. Todos em volta retiram os chapéus. De joelhos e humildemente abençoam a cena. Um em mil, mas ali, bem à frente de seus olhos cansados de tudo aquilo. Amanda tenta dizer aguma coisa, mas já não há palavras em seus pensamentos, não há músculos que possam erguer palavras em sua boca e expressar a sofreguidão do encontro. Ela penas se deixa acarinhar. Manoel também não fala nada. Ninguém fala nada. Amanda expia. Deixa um último e livre olhar àquele que a esperou sempre.
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