domingo, 13 de março de 2011

Escolher-se

Um dia acordei e decidi que não deveríamos mais estar juntos?
Não, não foi assim. Não decidi absolutamente nada. As coisas foram se encaixando e aconteceu. Como tinha de ser. Como tinha de tentar na única existência que me apresentaram até agora.
Veja as coisas que alcançaste desde então. E eu, o que eu conquistei. Não fazes a menor ideia de o quanto estou feliz em mim mesmo, dentro do que posso.
Nessa altura da vida é tudo o que se pode querer. Estar-se. Escolher-se.
Mais adiante sabe lá o que acontecerá.
Minha mãe anda preocupada com quem lhe guiará os passos hesitantes da velhice. Eu disse para que não se preocupasse, que os passos da senilidade eram os mais certos, rumo ao sono eterno, rumo ao chão das calçadas, rumo aos avisos de que é hora de apenas embalar a cadeira.Haveremos de encontrar rumo.
Os passos de agora é que são elas. Eles definem a consistência de nosso fim. Quem os guia? Quem nos dá a certeza de que são os melhores? Ninguém. Por isso é bom seguir vivendo.
Eu não decidi nada, monchère, as coisas foram acontecendo e eu me encontro aqui e você ai onde está. Onde estamos? Talvez querendo as mesmas coisas indizíveis de casal, os mesmos pactos inconcebíveis de nossa nação a dois, talvez aceitando que queríamos as mesmas coisas e falhamos na escolha de nossa língua materna.
Em qualquer das hipóteses, rezo por ti e por mim. Não aquela reza que me ensinaram na escola, que essa já esqueci. Mas, algo assim... Aconteça o que acontecer duvidai/ lembrai que não há certezas permanentes/ nem verdades de vida inteira/ duvida da vida para que ninguém duvide de ti/para que ninguém diga que não viveste.
Sem amém, apenas dias se passando como deve ser e esse sabor de descoberta que apenas os loucos, os famigerados e os que escolheram viver-se, conhecerão. J.M.N.

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