No verso da foto, um lugar, uma data e um beijo. Tua boca ali, parada no espaço branco, nas costas da paisagem que abrigava nossa imagem feliz, cabelos ao vento e o sol do velho mundo a banir incertezas em nossos rostos. Fico olhando isso e me sentido ridículo. Tão pequeno porque fiz de tudo para destruir essa moldura de eternidade que a foto retrata. Mas aí, sinto o mesmo fulgor incrivelmente reconfortante daqueles dias, é como reviver o sabor da foto num abraço sozinho, mas nada triste. E fazes parte deste incrível quadro que a sorte me deu anos antes. A foto, tua boca, o lugar secreto a que recorro sem precisar ler onde estávamos. O sono que anuncia tanto cansaço nesses dias de trabalho duro e muita sede. É ridículo saber que não vens. Natural até demais essa certeza. Fiz por onde. Mas não há dor ou sabor de derrota, apenas um frio que vem de vez em quando. Entre os cantos da foto, somos ainda e para sempre. Imagem sagrada do tipo protetora e eterna. Tua boca atrás cravada, beijando meu passado e sussurrando esperanças, móbiles e coisas afins. Um lugar, uma data e um beijo atrás para dar fundo à minha solidão e a imagem estancada no instante perpétuo, faz-me rir e crer que existo. Ridículo como tantos, Como Álvaro de Campos em suas cartas. Eu escrevo sobre o amor porque o tive desde sempre. J.M.N.
Trilha sonora…
Nenhum comentário:
Postar um comentário