UM LIVRO:
Quando li pela primeira vez Guimarães Rosa, o fiz obrigado por uma das irmãs do Colégio Santa Catarina que, para me manter de castigo na biblioteca depois de uma bela estripulia, entregara-me Sagarana para que eu escolhesse um conto e resumisse para ela antes do fim do castigo, o que, aliás, jamais aconteceu, pois fui perdoado em troca de muitos pais-nossos e ave-marias, além da participação de uma ação solidária em nome do Colégio.
Apesar disso, Manuel Fulô, do conto Corpo Fechado ficou-me na memória por muito tempo, como um dos muitos possíveis alteregos que viessem me socorrer em meus delírios literários.
Muito tempo depois, como busca por estilos próprios encontrei-me novamente com João Guimarães Rosa em seu primeiras estórias e ai, outras muitas personagens tomaram o lugar de Manuel Fulô, tal como Ninhinha, menina que ao sussurrar deixa, deixa, redimia todas as culpas de em redor e quando queria doce de goiaba era só pedir que vinha.
Esse Guimarães sem castigo ou obrigação mudou tudo quanto eu sabia de regionalismo brasileiro. Primeiras estórias é, sem dúvida uma preciosidade da literatura brasileira e mundial. O mel do maravilhoso desse ofício que muitas vezes apenas aplaca dores muito fundas em nós, escrever para dar sentido ao insondável com a palavra mais viva do que nunca. Assim Guimarães se colocou entre meus prediletos, assim deveria constar entre os obrigatórios.
UM FILME:
The American (2010), título original deste filme do premiado diretor Anton Corbjin é uma das boas opções que já podem ser encontradas em locadoras. George Clooney pode não acertar sempre em seus papéis , mas já havia mostrado uma possibilidade de boa performance em Syriana, e, repetindo comedimento e uma boa dose de canastrice silenciosa não fez feio nesta película meio sombria e lenta, com uma fotografia primorosa, uma vez que Corbjin antes de ser cineasta notabilizou-se como fotógrafo, tendo sido o responsável pelos principais, ou, pelo menos, mais profícuos registros fotográficos do Joy Division.
Por conta disso, não haveria outro diretor com maior intimidade para realizar o sensacional, Control, sobre o qual já falamos por aqui, e para realizar um trabalho “essencialmente europeu” como declarou Clooney em outro lugar, tornando o interior da Itália um oeste contemporâneo onde personagens integrantes de uma guerra ainda ativa travam relações entre a solidão e a necessidade de se ancorar em algo que mesmo efêmero, signifique uma redenção em meio ao caos presente.
Com roteiro de Rowan Joffe, cujo trabalho anterior Last Resort (2000) já tinha me dado bom indício de sua mão de roteirista, Um Homem Misterioso tem a presença estonteante de Violante Placido, um belíccima atriz italiana que contracena com Clooney e cuja beleza muitas vezes rouba a cena e traz ao centro do enredo a questão de que no meio de tanta solidão e reclusão, o personagem principal – Clooney – tem um abrigo. Vale à pena assistir.
Trailer:
UM DISCO:
Presentaço de um grande amigo, este disco de Tereza Cristina caiu imediatamente nos preferidos do meu aparelho de som (quem, aliás, escolhe seu próprio repertório). Sensacional mistura de sambas e vozes únicas, como a de Marisa Monte em Beijo Sem, música de Adriana Calcanhoto, a qual, segundo meu pai ficou melhor do que a original e olha que ele advoga que a original é sempre a melhor.
Combinação maravilhosa com Seu Jorge na musica não menos atrativa de Arlindo Cruz, Pura Semente, além de um banho de interpretação da própria Tereza em Lembrança, de sua autoria e com versos lindos tais como: Cuidado com a sinceridade/Já mataram a verdade e eu não li no jornal/Que o mal dessa gente miúda/É fazer da palavra luminoso punhal.
Disco lindo! Ouça aqui
J.M.N.
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