Hoje acordei lembrando as partituras de quando abandonei a música e me dei à palavra. Estava todo de acordes e filarmônicas coberto. Úmido de uma noite inteira apegado às trevas boas que vêm quando estou dominado, estacionado em Plutão, por sobre as naus estrelares dançando os merengues que não dou ao público. Comecei pelo fim. Disse-lhe amor. Um único mesmo. De perfilar-se em dias comigo mesmo e apresentar-me novamente as estradas, os cortejos. Ela Aparecida. Nem santa nem puta. Entrementes tudo quanto eu quisesse, me disse. Já concordo de antes. Não é pouco subir essas notas em meu olho de novo. Sentir a audição limpa mais uma vez, a vida batendo à porta. Meu outro eu ainda presente, porém de costas, vendo as coisas como em um retrovisor, tudo passado. Ouço bemóis, sustenidos, um piano finíssimo e alentador. Mas não é ela tocando. É nosso vulto-parte. Nossa expressão idílica e feliz. O saboroso espectro que nos parte e recompõe ao seu sabor. A modelagem dos deuses finalmente em mim. Ando abalado. As estruturas nervosas a mil. Tanto e tão fundo que hoje dependi das pernas dela para o caminho e me pintei com a sua maquiagem para o nascer do dia. Não era um homem apenas, era um ente. Na rua as pessoas seguindo nossos beijos alados, cheirando a resina ambarina de nossos peitos potentes. Respirávamos como em uma regata ou uma marcha de vitória. Não são poucos esses compassos que me dão quando ela me ocupa. Não é menor a virtude quando desaguamos abertos e expelindo conteúdos indizíveis um no outro. Minha música retorna por através da sua. Minha palavra se rende deitada em plumas a ver gigantes nascendo na entrega, a ver Pilates lavando as mãos todo traído, perdido em homem. A última oferta será sempre a primeira: Eternidade! Acima de tudo. J.M.N.
Nenhum comentário:
Postar um comentário