terça-feira, 28 de junho de 2011

Cantata

Eu cantava enquanto a via. Segurava os sons da vida externa a mim enquanto naqueles ínfimos segundos olhava sua respiração acontecer bem diante de meus olhos. Um mar de tranquilidade e, ao mesmo tempo, não deixava de confirmar minha admiração obscena por sua existência tão próxima, tão cheirando a requerimentos ultimados de carne e líquidos expelidos. Quando ia acordando eu chiava. Trazia à beira de seu sono as músicas de embalar minha infância. De todas elas extraía um pouco daquela quietude que me fez implorar para crescer perto de quem pudesse me fornecer o mesmo tipo de artefato alento, o mesmo tipo de calor pequeno que resguarda nosso dentro dos espinhos do mundo alheio. Enquanto ela, restante em meu desejo se expandia e passava à condição de amada, eu muito baixo pedia forças para suportar o sono mais uns minutos. Para que não fosse antes de ouvir seu ressonar mais denso. Onde eu pudesse reconhecer que a tranquilidade que a embalava seria a mesma pluma que passaria a estocar para fazer macias as minhas noites dali em diante. J.M.N.

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