sexta-feira, 17 de junho de 2011

Entre nós (ou “A língua em flor”)

Dla moich uwielbiana Goshia
że spoczywa w moim językiem.

Não entendia quando falavas, mesmo assim te observava mastigar cada sílaba dentro da boca e me deixava transportar para tuas fronteiras, independentemente de visto ou permissões. Jamais me expulsaste disso, não se tratava de extradição. E um dia, subitamente, compreendi tudo o que dizias. E tu me compreendeste. E aquela língua que nascia entre nós teve o primeiro neologismo, a palavra entre. Acertada, radical anteposto a tudo quanto fizemos desde ali. Depois veio o beijo e naturalmente outras porções nada discretas do que éramos isoladamente em cada plexo, conquanto, desde aquela altura antevendo sinapses que fossem as mesmas para os mesmos pensamentos, para os mesmos atos compartidos. Entreatos a unidade florescendo, a cada dia um pouco mais de nexo em nossas falas. Estávamos fundando uma nação entre língua e corpo, entre significantes e símbolos novíssimos para as mesmas peças de engrenagem, para o mesmo percurso amante que se encontra no mundo inteiro e que era inédito aquilo que descrevíamos em nossos encontros. Até que veio a geografia, as milhas não cumulativas do que queríamos para toda uma vida. A independência, ainda mais bela e potente que a conquista, sanou nossos olhos oceânicos num beijo. Um único e demorado beijo de adeus. Em cuja história ficou suspensa a razão e a outorga de poderes, momento em que, mesmo distante, decidimos silenciosamente que seríamos perpétuos em nossa língua própria, entrementes ao reencontro. J.M.N.

Para ler escutando…

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei que a música traduziu a mesma coisa que o texto quis passar, que não importam barreiras, há coisas que são universais.
Mesmo não entendendo a língua (aliás, em que língua canta a banda?) achei a melodia belíssima e ficou perfeito com o texto.
Amei demais esse.

Bruna.