terça-feira, 28 de junho de 2011

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“Nunca, si llegan a un sitio,
preguntan adònde llegan.”

do poema he andado muchos caminos
de Antonio Machado, 1934.

Pensei mil vezes antes de te dizer. Não é confissão, que tudo aqui presente, já sabias. Mas nesses dias em que encontro as razões para sorrir e cultivar libélulas, direi assim...

Não és passado, pois não apenas um tempo por onde andei. Devo-te mais desses meus dias de transe e furor do que a ninguém.

Não és menos do que um piano acordando a gente depois de um choro, depois da catarse. Aqueles harmônicos enchendo o peito. Uma obra perfeita.

Não és apenas uma mulher que amei, uma usável. Toda caligrafia do teu corpo ainda tem seguidores dentro dos meus sistemas, ainda orienta meus barcos do além.

Não resolvi tudo como deveria, nem dei sinal de que sofria com teu sofrimento. Mas perdoa mesmo assim meus desafetos, minhas salsadas. O Amor que ainda te chamo nesse ventre escrito, convém que saibas será perpétuo.

Não demoravas tudo o que eu costumava reclamar. Não vieste em tempo errado, nem foste esquisita ao exigir tudo quanto não podia te dar. Era o que esperavas. Era, contudo, o que eu não podia. Não há glória nisso, talvez nem tragédia. Tempo que não era tempo, apenasmente.

Aquilo tudo não terminou em nada. Não se cobriu com o carvão do tempo. Aquele grosso das coisas maltratadas que porventura ainda estejam em teu peito, calha de atirares fora enquanto penso no que dizer para te arrancar um último sorriso.

Não irei de pessoa própria te pedir issos, aquilos. Não irei, em nota, estrear minha desrazão em jornais. Não irei mais dizer o que era para ter sido dito. Te peço essa hora em que debruças teu olho sobre o cristal palavra. Sabe, delas, esses quilates são implícitos, feitos por mãos que não são as minhas, ditas por tantos que subscrevo e venero.

Os mil raios destas coisas que escrevo, quero-os apenas iluminando mais uma vez os teus olhos e depois... onde quer que cheguem, não perguntarei aonde chegaram, pois que não quero endereços ao que sinto. J.M.N.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lindo isso. Uma declaração de amor à vida, afinal.
Fiquei viajando nesse texto a tarde toda.

Livia

Anônimo disse...

:(
Lindo.

Kelly

Anônimo disse...

Pura devoção...

Beta

Anônimo disse...

...lágrimas,apenas.