terça-feira, 14 de junho de 2011

Ela não mora mais aqui

Corredores e roupas vazios. Não a sinto em canto algum. Nenhuma passagem ou estadia ou cheiro. Migraram seus gestos à sombra da noite. Sequer a causa da perda ou um compêndio sobre o seu funcionamento errático ela deixou. Tanto custou estar inteiro novamente e mesmo assim, uns pedaços faltando aqui e além.

Entretanto, há o alcance de nossos atos. Os mais ávidos – entre bons e maus, os mais mesquinhos – entre entregas e vinganças viraram sanha, desenvoltura própria para assassinatos. Acometidos em surpresas ora de pele e absolvição, ora de frangalhos e maremotos, sustamos os créditos. Carecíamos naquela altura de muito pouco à pertença, porém assim mesmo, abandonamos os planos.

O que ficou custa-me uns borrolós do nosso império. Nossos últimos avos adernando na memória, junto com naus, bandeiras e borrões. Ela não mora mais aqui. Não mora neste endereço. Não se aplica a entregas de pedidos antigos, utensílios domésticos. Ela desaforou suas mágoas e transferiu alcunhas a outras instâncias, outros ducados.

Faria-lhe uma serenata caso tivesse esperança, porém apenas um vício antigo que agora abranda. Sói-me uma canção triste e abandonada. Sonho com verdades, acordo abençoado e carente, entrementes assumido e bem descansado. Minha casa está aberta às visitas. Espero-as com as janelas abertas, com as melhores toalhas de mesa para o jantar. J.M.N.

Trilha sonora…

9 comentários:

Anônimo disse...

E é exatamente assim q ficarás, pois escreves muito bem sobre o amor e suas decepções, alegrias, esperanças, enfim suas belezas e seus horrores, mas do que vale tanto conhecimento e inspiração se não pode vivenciá-lo, ou ainda privá-se de tal experiência... Triste, muito triste!!!

José Mattos disse...

Sabe "Anônimo das 08:24",

Estou propenso à indulgências hoje. Deixo-lhe um "Boas Vindas" fraterno, o desejo de que voltes sempre, em especial a este texto que comentaste e, além disso, deixo registrado que fico feliz que tenha soado contrária a ti, a idéia mesmo do que escrevi. Afinal, só entendemos algo a partir de nossa própria experiência. Se é tristeza o que te dizem as minhas palavras, tristes elas são. Quando as leres mais adiante, quem sabe feliz, pode ser que se propaguem melhores, tal como agora em mim, retumba completa e potente a palavra amor.

Cordialmente,

J.Mattos

Anônimo disse...

Outch!!!

Anônimo disse...

Agora vê!
A galera não se segura, kkkk.
Acho que nem se suporta.

Flávia

Wagner Dias Caldeira disse...

Fazer literatura é se arriscar. Escolhemos corrê-los, os riscos de, exemplo, servir de espelho pros arrebatamentos e pros desatinos, pro que é ausente e pro que se excede dentro de cada um ser vivente. É preciso coragem, irmão. Ainda bem que a temos aqui e em nossas reservas íntimas. Seguimos vivendo, e, se só isso restasse, já seria lindo. WDC

Anônimo disse...

Continuem sempre camaradas, pois ler e permitir que os outros se espelhem na arte é uma das muitas funções do artista.

Ótimas respostas Palavras...

Bruno

Anônimo disse...

Apreciar o amor e o talento de quem ama intensamente, são poucos que o fazem. Expressa-lo é dificil, mas creio que mais dificil ainda é condenar-se por não ter amado.
O julgamento é o pesadelo da alma e é a confissão de que ainda existe uma esperança.

Kelly

Anônimo disse...

Concordo plenamente com a Kelly e digo ainda que quem fica julgando o outro é porque tem algo mau resolvido em si. Porque todo mundo tem telhado de vidro... É isso ai.

Bia.

Anônimo disse...

As pessoas deveriam primeiro ler direito os textos, assim evitariam falar bobagem ou se colocar no lugar de analista. Credo

O texto e lindo.

Beta