terça-feira, 14 de junho de 2011

Dentro dos sonhos temos crescido

Sim, germina. Eu disse ao meu irmão, apesar do cenho incrédulo que adiantava as rugas que ele ainda terá. Ele acreditava que a sua janela banhava-se malmente dos últimos fiapos da morte diária do sol, por isso mais propensa a damas da noite que a gerânios. Até que batestes à porta e nós já sabíamos que trazias nas mãos em concha nutrientes que o dia nos recusava. Meu irmão abriu devagar e o vento nas frestas assobiou algo que eu não entendi, só ele. Era uma canção de bons presságios, disse depois.

Sim, germina. Disse-me meu irmão. Vinha eu reparando demais nos passantes. Como essas gentes são insuficientes para amar, dizia eu. Eu media as passadas, as conversas, me metia na adivinhação de sonhos alheios. Inventava uns, confesso. Dessas riscas feitas no campo onírico eu extraia a leveza que a vida tem que ter. Eu e ele tínhamos os mesmos mananciais, sumidouros idênticos e pastos que se confundiam. Fingíamos possuir de sobra o que faltava no outro, sobretudo a razão. Ele sempre me dizia que o suficiente para amar estava dentro de nós mesmos. Ele me disse isso infinitas vezes. Acho que agora ele se convenceu. WDC

2 comentários:

Anônimo disse...

Germina sim, concerteza. Lindo poema.


kelly

José Mattos disse...

Iva me disse: "Digno de irmãos que se amam."
Digo-te eu: Lágrimas felizes meu irmão, depois de lê-lo. O poeta inconcluso que ainda espero ver brilhar nesse canto de bytes a rodo, de custo e imprudência... Ainda bem.

J.Mattos