segunda-feira, 21 de março de 2011

Topografia

Por qualquer lado que a gente jogue o olho, aquele lugar é um lugar triste, sem tempero, sem as fases da lua para dizer se haverá maré ou peixes que pescar no dia seguinte. Não tem mais cheiro e não se ouve pássaros batendo asas e cantando o que cantam os pássaros na hora de voltar para casa. Eu diria que é um canto do universo que só aqueles mais sozinhos visitam quando em seus passos iguais e monótonos, pois caminhados sozinhos, se cansam. É um intervalo entre qualquer retidão de caminho, aquele lugar tão cheio de nada e com nada parecendo, pois as formas e as cores deixaram suas vidas ali e foram tomar desenhos e formas e paisagens em outros lugares mais ajeitados e condizentes com seu colorido.

Eu tento chamar aquele lugar de um nome, mas ele não atende. Tento que outras pessoas se acheguem e deem um pouco de esperança aquelas pedras que vicejam cheias do pó de nada que ali se multiplica. Mas a verdade é que esse lugar se encontra muito além dos lugares com nome e muito aquém da vontade de ser habitado por gente, por qualquer gente que como homem e mulher e filhos e bebês de colo, vivam seguindo suas vidas retas e com destino pronto em promoções. Aquele lugar dá um novo sentido aos lugares do mundo inteiro que tão pouco se acham nos mapas e têm tão pouco de memórias quaisquer que sua geografia parece um desenho abandonado num pedaço de papel muito branco e sem dono.

Eu de fato não sei explicar como aquele lugar tomou conta do que antes estava ali e se chamava por um nome que agora parece impronunciável. Porém tenho que cumprir o destino do narrador e dizer a todos que este lugar come os sonhos da gente, mofa as lágrimas pelas alegrias que passaríamos. Esse lugar toma o tento da gente se a gente não se esconde rapidinho. Seu mapa mostra o avesso do que foi um dia. É uma topografia nula daquilo tudo que acordava e dava um contorno alegre aos nossos dias.

Apesar de tudo fiz uma placa para esse lugar tão dentro e tão fundo das minhas coisas de agora. Escrevi bem grande com letras negras e bem desenhadas um nome nessa placa. E esse será o nome do lugar de agora em diante. Seguirá por muito tempo tendo esse nome pintado em preto bem na sua entrada, o lugar. Esse nome que me enche a boca de água e saudade, que me engasga por ser tão presente e difícil. Porque tem coisas que mesmo ausentes ou acabadas, mesmo sem forma ou geologia dão uma imensa saudade e se apossam de incontáveis alqueires bem no meio da terra da gente. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa! fundo esse... Bem dolorido. Fiquei com a impressão ao ler de que esse texto foi feito para criar esse lugar dentro da gente, esse que você fala durante todo o texto.

lindo,

Lua