domingo, 13 de março de 2011

Notas esparsas sobre o Oscar (VIII)

Vou aproveitar que o Oscar já aconteceu e que eu estou atrasado com as minhas notas sobre os filmes pra fazer um post só com os três filmes que estão faltando.

O Vencedor (The Fighter)

A paixão do brasileiro por boxe é um sentimento quase sazonal, condicionando-se à presença ou ausência de um ídolo do momento. Foi assim com Éder Jofre, Maguila e mais recentemente Acelino Popó Freitas. No entanto parece muito mais constante o nosso gosto por filmes de lutadores. O caso mais famoso, acho, foi a série Rocky que teve cinco filmes, todos estrelados por Sylvester Stallone, que depois falou umas coisas aí do Brasil que nem vale à pena mencionar. Numa palavra: gosto de filme de boxe porque os caras apanham muito e depois vencem. Os filmes de boxe são quase todos sobre superação. Nos dão esperanças de que no final a gente pode levar a melhor.

O Vencedor não foge à regra, mas o diretor David O. Russell amplia seu olhar para uma superação que é anterior à vitória nos ringues: a superação de si mesmo, no caso o personagem vivido por Mark Wahlberg que se livra da sombra do irmão Dicky (Christiam Bale), famoso no passado por ter derrubado (apenas derrubou, não venceu) o lendário Sugar Ray Leonard, mas hoje apenas um dependente químico prestes a ficar famoso de novo, agora por um documentário sobre o vício. Micky, o irmão, consegue também escapulir da adoecedora lógica familiar que fingia não ver que o passado do irmão já não era mais uma realidade.

O Vencedor ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante e melhor ator, para Bale. Esta parece ser uma inesperada história de superação também. Depois de atuações, como diz meu irmão Zeca, “esmirradinhas”, Bale consegue compor um personagem de forma convincente e até assustadora.

O inverno da alma (Winter’s Bone)

Uma injustiça colocar O Inverno da Alma pra cumprir tabela no Oscar. É um grande filme, com personagens densos, uma fotografia linda e tem na trilha sonora a assinatura de Dickon Hinchliffe (membro fundador do Tindersticks). Fazendo uma comparação meio absurda, eu diria que se Vidas Secas de Graciliano Ramos fosse um filme passado no frio, pareceria com o Inverno da Alma. Digo isso não só pela secura que habita cada um dos personagens, mas também pela presença alegre de cachorros em quase todas as senas. Os sorrisos, nas poucas vezes que surgem, são enviesados ou sarcásticos. A única pessoa que é esperada é um morto.

A história é passada numa miséria que está dentro das pessoas e em torno delas. Ree (Jennifer Lawrence) é a filha que procura o pai, ou seu corpo, caso contrário perde pra justiça a casa onde luta com uma mãe doente e dois irmãos pequenos. O pai foi preso por tráfico de droga e, depois, morto pelos traficantes do local. O final não se pode dizer que é feliz. Termina bem, porque aquele lugar, mesmo depois de terminado o filme, parece permanecer eternamente esquecido pela felicidade.

127 Horas (127 hours)

127 Horas (127 hours)

Uma injustiça colocar 127 horas pra cumprir tabela no Oscar. Claro que não pela mesma razão de O Inverno da Alma, mas porque esse filme é muito ruim.

Baseado na vida do alpinista Aron Ralston (vivido por James Franco) a história é rodada na paisagem deslumbrante de um Cânion em Utah. Claro que lá acontece um acidente no qual o protagonista ficará com o braço preso por uma pedra. 127 horas são suficientes pra que Aron se arrependa de não ter falado pra ninguém onde ia, não ter atendido o telefonema da mãe, ter comprado ferramentas de baixa qualidade entre outras “tomadas de consciência”. Ou seja, é um filme repleto de lições de moral. Ideal pra emissoras como a Globo. Taí, 127 horas tem perfil pra fazer carreira na tela quente.

WDC

Um comentário:

Wagner Dias Caldeira disse...

O Netinho corrigiu, Rocky teve 6 filmes, e não 5 como eu falei. Como não acho de bom tom publicar e depois corrigir, fica aí a correção.

Wagner