terça-feira, 9 de junho de 2009

Diário da tua ausência V

09.06.09 (1:32 a.m.)

Percebi finalmente que não há a quem recorrer. Que não adianta todo o esforço do mundo para reatar antigos laços, desfazer tropeços ou simplesmente dizer a alguém muito antigo em nossa biografia - sinto muito. Além desse gosto estranho nos meus alimentos. Além deste torpor infectante que me onera muitíssimo o passar das horas, ficou a solidão. Ela anda a me caçar. Estranhamente ganha densidade, passa a apreciar as mesmas coisas outrora guardadas a sete chaves, como se fossem seu próprio gosto. Ainda consta como indigente em minha geografia, mas sei que fará de tudo para conquistar os espaços nulos, as vigas mais escondidas de mim. Estarei pronto para quando ela atacar, pois em mim residem ainda as coisas todas que nos compunham e mais e maiores do que esta solidão atrevida que me espreita e provoca, são as lembranças do fomos e tivemos. Isso sim faz valer uma vida. Meter-me nestas vestes de memória é o que me faz resistir.J.M.N

2 comentários:

Anônimo disse...

"Es curioso, pero vivir consiste en contruir futuros recuerdos..." (El Túnel - Ernesto Sábato)

José Mattos disse...

Sei que isso não é um conselho.
O que será, então?
Tem mais coisas entre estas palavras e aquilo que deixamos sem dizer do que podemos imaginar.

Um beijo,

J.Mattos