terça-feira, 16 de junho de 2009

Revelação

No fundo da foto, um olhar disposto a tudo. Ele nem viu quando ela saiu de sua mira e foi se misturar à paisagem.
Ela tinha dessas coisas.
Ficava por ali, dizia duas palavras, provava que existia e sumia.
Quando decidiu ser mais presente, teve problemas consigo. Já não conseguia.
Sumiu de vez.
Um amor irregular escreveu em seu diário.
Parou numa praia para catar conchas ou águas-vivas e o viu de mãos dadas com alguém.
Um pouco do seu dia morreu e talvez outras frações de si que nem sequer sabia existir, também escaparam no susto.
Deu o nome dele ao artesanato disforme feito com as coisas juntadas na praia.
Mudou-se para Roma, onde pinta paredes por muito dinheiro.
De vez em quando vai ver o mar e se lembra dele.
Já não cata conchas.
Tem medo de que elas se amotinem e lhe tragam lembranças.
Continua figurante de fotos, só que agora, evita provar que existe.J.M.N

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