quarta-feira, 10 de junho de 2009

Então, confesso que vivi!

Se durmo sossegado quando minha memória olfativa interpreta a fronha recém-lavada como o cerne dos teus cabelos é porque algo definitivo ficou. Se acordo empapado em suores ordinários e quereres sem compustura alguma, ou envolto no vômito que o álcool da noite delirante me permitiu é porque as razões de ser e estar ainda requentam meu coração, minhas víceras, minha anatomia toda. Se em ventos chuvosos descubro o doce das frutas de teu beijo, a entrada macia de teu corpo que tanto desejo e tanto levou de mim, tua antanha descoberta de si, é pois válido crer que fiz por onde, que lá estive, que lá estivemos. Nas misturas mágicas, nas tinas de poção. Se posso mesmo com portas na cara, com amigos deixando-me à deriva, lutar contra esta força titânica que é a tua ausência e se nessa batalha sozinha eu ainda umedeço certas partes de meu corpo, alternando vitórias e derrotas, sorrisos e gritos de dor, ainda posso dizer que me encontro materializado, monumento para qualquer espelho. Pois as recordações construídas com tanto esmero e entrega são sim a vida que me rodeia, o sumo santo de meus encontros com a alegria e com a tristeza, com a pena e com o indulto. É, por vezes, assutador recobrar certas lembranças, mas é ainda pior, curvarse diante da vida e das coisas tênues que separam as recordações construídas dos ideais amenos e dos desejos do porvir.J.M.N

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