terça-feira, 30 de junho de 2009

Antinome

Cobiçava demais aquelas tuas pernas. De manhã pareciam rolos de mogno bem torneados e envernizadas pelo meu toque denso, oleoso. As marcas que te faziam uma só, sem repetição. Como hei de chamar agora minha loucura? Como hei de nomear desafetos em linguagem de amor e culpa? Agitava o ar do quarto com violência, segurando teus braços, aos gritos dizendo que não era eu, que não podíamos chegar aquelas vias de fato. Mentindo sobre meu ciúme desenfrado. Ainda pensas estar ilesa à toda sorte que nos concluiu? Sei que não passas na minha rua, que não guardaste os presentes, pois as lembranças te atordoam demasiadamente nas manhãs de domingo e seria inviável guardar em teu armário estes pingentes de um passado bruto. Minhas roupas retornadas apodrecem, envenrgonham-se de não mais poder cobrir minhas vergonhas. Lembro-te apenas que foi um passado entregue, como um megaton eclodido. Como chamarei minhas dúvidas de existir e permitir ser a via de retorno para tuas desgraças antigas? Como pronunciarás a renúncia mentida que te fazia só minha e do mundo inteiro? Compreenda: te chamei de todas as formas, te dei o máximo de mim, mas precisava de um horizonte conhecido, de uma Vitória a apontar conhecidas praias; conheces minhas piores defesas, minhas mais abomináveis virtudes; e meus delírios, meus sonhos e minha entrega; o gozo eterno que foram aqueles anos aturdidos - barulho, nervura e catástrofe. Que nome darei para aquilo que me falta agora? J.M.N

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