para um outro Neto,
que já foi descansar.
Ele é a primeira imagem de pureza de que me lembro. Na minha infância esteve ali, como um ser encantado que segredava suas origens para além dos dias da criação. Sua secreta linguagem de verbos e de corpo me aturdia como as coisas do além, sobre as quais depois descobri, o medo não deve repousar. Fez parte de muitas tardes felizes o Super, como disse que queria se chamar numa de nossas brincadeiras. Foi companheiro de muitos ofícios infantis, inclusive os inconfessáveis. Junto com seus irmãos encheu minha memória de sagrada presença.
Fui vê-lo no hospital. Já quase perto do fim. E tive a impressão de que minhas primeiras saudades eternas de pessoas de minha geração chegavam inelutáveis. Encontrei com parentes, irmãos, sua mãe sempre perto, gentil e cuidadosa, seu pai silencioso. E ali respirei um pouco do tempo em que estivemos juntos e muito do tempo que nos sonegou a vida. Senti, no fundo de algum lugar esquecido que queria as coisas diferentes. Irretocáveis, puras, cheias de descobertas e risos cúmplices como as tardes em Mosqueiro, há muitos anos.
Num tempo em que as pessoas mais intensamente se empenham em cultivar suas solidões e cumprem destinos cada vez mais opacos e sem sentido, acredito que Super cumpriu o seu com dignidade. Não deixou de sofrer por isso, mas mesmo no fim, a dor não corrompeu sua pureza, deixando tempo para gracejos e espontaneidades como as que nós - os outros, precisamos tanto nos esforçar para produzir e que por isso, talvez, não mereçam ser chamadas de naturais.J.M.N
Durma em paz...
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