Ontem ao chegar a casa chorei. Chorei um choro desconhecido, com pedras e foices e olhos no além. Chorei estes quilômetros de solidão que me distanciam das coisas intransferíveis do dia-a-dia: contas a pagar, ligações de trabalho, cuidados com o corpo.
Estava só e inconsolável.
Ninguém ouvia.
Ninguém tratou de meus pulmões cansados.
Estive por horas, entregue ao respirar dependente que este tipo de choro nos causa. Uma vontade de extinguir o passado e causar juventudes nos braços que me elegeram para ser amado. Nasciam, entretanto, estas linhas. Nasciam fugitivas da constância dos hábitos.
Foi como não me estivesse. Mas sentisse.
Ontem ao chegar a meu endereço, não conhecia os caminhos, não sabia o nome das ruas, não sabia diferenciar noite e dia. Cheguei, portanto, em segredo, acuado na razão sozinha de compreender destinos e utilizar o inevitável traçado deste momento.
A voz dela, a dizer que eu devo suportar meus feitos, passar calado pelos gritos ferozes do mundo que me assiste, ecoava perfeita, lícita. Uma sentença, um dogma. Reconhecer-se comum e desvirtuado, estúpido e envolvido em crimes de paixão e morte tem seu preço.
Escuto alguém num chamar distante.
Um fino som que me ata ao presente.
O choro persiste, mas de repente, não é por falta de aviso ou revés de sorte. É o justo momento em que se encontram: meu ser inteiro e a certeza de que foi feito para isso.
Tudo tem um preço, afinal. J.M.N.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Melancolia
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4 comentários:
Belíssimo... muito triste, mas lindo. Como, aliás, são os grandes poemas de amor.
Marcela.
fico impressionada a cada dia com seus textos,como me identifico com eles, meus sentimentos e pensamentos.
Pô Netão, perfeito, fiquei até emocionado..abraços
Carlos "Canhão"
Grande Dr. Brito,
Sinto falta de nossos encontros casuais pela noite de Belém. Onde andas meu amigo?
Abraço,
J.Mattos
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