Eram estranhos dentro do mesmo sonho. Eram como um pacto feito dos anos, como um calendário muito riscado de compromissos feitos à distância. Foram um do outro, sem, contudo, terem sido dos dias. E isso não ajudou a prendê-los à realidade da vida, do passar do tempo. E foram se esquecendo. De repente se esqueceram dos presentes. A festa de fim de ano ficou adiada. Voltaram calados da viagem. Não cozinhavam mais juntos. Não havia perguntas, pois as respostas já haviam sido dadas. Andavam pela casa sem se esbarrar. Jamais brigavam pelo controle remoto. Ela pedia muito perdão. Ele pedia que ela o entendesse mais. Viviam de desculpar-se. Talvez na mesma intensidade que deviam desculpas a si mesmos. Não cediam, sinal de que já não estavam dispostos a pertencimentos. Quando se cede, acontece de entrar mais um pouco no terreno do outro. Porteiras fechadas. E todo mundo continuava achando perfeito. Quando chegaram ao fim, foi tamanho o espanto que, cada qual em seu choro ou alegria, percebeu onde haviam levado a crença das pessoas. Exatamente à imobilidade de um tempo que ficara para trás. Estancado em alguma desistência do caminho. J.M.N.
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