domingo, 20 de junho de 2010

Não

Não use a metade de sua boca. Não me oferte outro sorriso assim. Não acene suas mãos. Não cubra com travesseiros as partes de seu corpo que despi. Não seja tão minha. Não aceite meus horários desta forma tão pertinente e segura. Não abone minhas faltas. Não cheire minhas golas, o céu de minha boca e, por favor, não vasculhe meus bolsos. Não me olhe de baixo. Não suspenda suas queixas. Não desarme o relógio para que nossa sesta jamais acabe. Não traduza minhas fugas. Não opere meus vazios. Não concorde com minhas bravuras, com minhas tristezas. Não me deixe atravessar o oceano sozinho. Não me deixe pousar em outro astro. Não permita que a ligação dure apenas um minuto e, por Deus, não maneie a cabeça desse jeito perfeito. Não mate a Lua de inveja. Não abuse da sorte dos sins. Não me deixe tão pássaro. Não recuse suas iras, seus ciúmes, minhas tramas. Não esqueça as chaves de casa. Não esqueça de pedir permissão para seus pais, a mudança já vem. Não se deixe perder onde ontem nasciam nossos sonhos mais intensos. E se não for pedir demais, não desate o último laço que nos mantém acordados um no outro. Isso tudo era para ter sido antes. J.M.N.

Um comentário:

Ligia Monassa disse...

Perfeito! Lindo! Transpassou a minha alma desde o início!
Parabéns!