segunda-feira, 14 de junho de 2010

Parou de bater

Acabou o pulso no entremeio da carne, nas extremidades do toque. Acabou de acabar, com a madrugada envolvida, rota de escape das suas insígnias – vigília e sonho misturados, como em um perfume.

E o que vinha dividido e suplementar, passou a conjunto. Rumou direto para o núcleo, instância gradativa do ritmo de sua existência. A qual tinha aprendido a rumar sempre a ela, cuja escolha não era mais que conveniência, mais que a imagem tangível de um bom candidato às amarras de família.

Parou de bater em seu peito.

Tumultuo armado nas costas de sua certeza. Artérias, vênulas e nervos retesados. Presos na descoberta instantânea de que não era amor para via inteira. A teia se expande. Desde o centro do peito até os raios e músculos do braço esquerdo. A mão em garra tenta segurar a lembrança mais infinita dela com tanta força que seria preciso romper os dedos para soltá-la.

Parou de bater em sua estrutura toda.

E a esperança de ver mais um amanhecer passou. Como parou de insistir o pedido de estar, como cessou de soprar o vento, o seu destino de liberdade para dentro dos pulmões. O som mudo que era seu desde a vida começada virou segredo. Mais um. Parou tudo. Finalmente estava em si. Um sorriso que nasceu depois dele em vida.

Satisfeito. Passou desta para outra linha, e ela ficou sem saber o que sentia dentro dele, aquele amor de ontem, cuja força e entendimento se tornou sua última feição estampada, como fosse uma máscara eterna ou quem sabe aquele vinco bem fundo que aparece quando se nega um alguém. Como se fosse a feição que o introduziria ao paraíso do esquecimento. J.M.N.

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