sexta-feira, 4 de junho de 2010

O que talvez fosse para ser

Queria saber menos de você. Ter cada vez menos, a impressão de que você está por perto.
Queria ter a coragem de entregar as últimas coisas suas que estão em minhas gavetas: roupas, bijuterias, cremes e bilhetes tolos contendo as melhores mensagens que um dia alguém me escreveu.
Queria saber novamente como é um domingo feliz. Sob sol ou sob chuva, caminhar derradeiro como se fosse o ser mais amado do mundo.
Queria a história de um império tracejada em manhãs de cozinhar a dois e servir a comida com menos fome de alimentos do que um do outro. Queria a imortalidade de nossas sestas.
Queria deixar esse apelo romântico que me adestra e comove há mais de trinta anos. Que disseca e empalha sem que eu possa fazer coisa qualquer.
Queria ter aprendido a ser menos eu ao longo dos anos. Mas aquilo que você me deu, foi tão repleto e intenso que eu apenas tive oportunidade de ser cada vez mais o que nasci para ser.
Não fosse esse comprometimento com meu nascimento e minhas incertezas. Essa paixão efusiva pelas coisas que emanam dos meus sonhos mais surreais, talvez eu pudesse querer um retorno, o caminho da casa que nunca construímos.
Queria ter entendido tudo isso no primeiro encontro, no primeiro beijo e, como sou eu quem materializa minhas maiores impressões de amor, queria ao menos ter dito tudo isso antes. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

às vezes fazemos isso, deixamos tudo passar para falar o que deveríamos ter dito muito tempo antes. Mas a vida é assim mesmo.

Lindo texto.