sexta-feira, 18 de junho de 2010

De necessidades e outras escolhas improváveis

Necessito vestir-me de céu para que acuranas e açanãs me envolvam no bater de suas asas. Preciso roubar teus olhos, mais uma vez, de maneira ainda mais espantosa. Necessito de últimas bênçãos, de rezas distintas, poemas de amor. Tenho que acabar com a espera, matar o tédio muitíssimo lento da vida sem ti. Necessito daqueles cabelos molhados, da tua imagem saindo do banho, cheiro de tarde, amores no corredor da casa. Preciso com tanta pressa de uma porção de alimento, de proteínas, gorduras, sais e outros pormenores, pois meu ser despede força e passos não havendo nossos beijos. Necessito de cuidados, silêncios, mortalhas para os compostos momentos de dor arfante. Preciso de luto, orvalho, novos jogos de cama e ainda mais de tuas mãos dizendo para meu corpo acordar. Necessito, afinal, de um ser mais aberto que eu, mais vidente e cheio de presságios para que me aconteça o que acontece com aqueles que amam, o complemento do universo, a certeza de que se pode ser mais que metade. J.M.N.

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