quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ecce homo

Sou um homem e não um átomo. Sou carne, ossos e armamentos. Jamais restrito ou miúdo sempre crescente. Sou cheio de riscos, de cicatrizes. Caibo nas linhas dela, nas linhas de tantos, mas sou apenas um ser sem receios. Sou casulo e não crisálida. Com marfins e ventos a compor meus risos. Sou rechaçado conforme o incômodo que nasce diante do que sou. Sou conforme me deu ao mundo o útero responsável por mim. Sou de alfenim e indecência. Porcaria e flores lindas. Sou um tiro de suicida, que escapa de si e daquilo que mais deseja. Espero, sentado, minha coleta. Partir não parto. Não ouso desistir. Sou para tantos uma mentira, uma impostura. Sou para mim mesmo um certame pleno na seleção de coisas que dar em escritos, luvas ou cinamomos. Vou-me indo contra tudo, enfrentando gritos, desespero e audácia. Às vezes crio, às vezes mato. Sou um homem de santidade dúbia, de abstinência nula, de resíduos e memórias – como as tais fotografias. Sou ainda deste corpo desavisado e seu rumo. Sou caminho para um bem, bastardo do amor entre Deus e o Diabo. Sou a antonímia de um anjo, criação envolvente dos sonhos. Sou um homem imitando um elefante, para ter passos lentos e pegadas profundas. J.M.N.

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