Estávamos lá naquele verão. Sem esperanças que fizessem parecer melhores os dias. E as tardes eram apenas pontes para a solidão dormente de quando se perde alguém ou a inocência em si.
Eu lembrava poemas trucidados, castigos pelas notas baixas, brigas dentro de casa e muita devolução de afeto. Ela, pelo que diziam seus olhos, estava mais para a placidez enfurecida de sua casa, as coisas andando muito dentro da normalidade – pessoas que não eram mais que gente zanzando de um lado pro outro.
O tempo surtava conforme vinha o choro. E havia a imaginação muito dura de que não havia escape. Como tudo mais, no auge dos anos de adolescência. E, de repente, a coincidência de se ter amigos em comum. Uma festa muito chata que cheirava a falsidade e músicas horríveis. Houve o sim para a fuga. De ambas as partes e em silêncio profundo.
Areia sob as pegadas. Nossos caminhos iam confluindo conforme dizíamos mais coisas iguais e intimidades que pareciam estar esperando aquele encontro desde sempre. O pertencimento, afinal, pode nascer neste tipo de encontro.
Não houve um primeiro beijo naquela noite. Não houve mais que um encontro sincero e as pegadas que se confundiam no final de uma praia deserta, madrugada alta e intensa compreensão de que a espera compesara.
Acordei com esta funda saudade na pele. Quase o gosto do sal daquela praia específica temperando minha vontade de existir. Mais um dia que volto a mim. Mais um dia encontrado e a certeza de que o passado deita sossegado e intocável numa praia anoitecida há muitos anos de cá.
Para ler escutando…
4 comentários:
'não houve mais que um encontro sincero"
gostei
beijos
Que lindo!
Cheiro de meninice, de coisas boas do tempo da juventude. Cheiro de tarde este teu texto.
Amei.
Juliana.
Toda vez que leio teu blog fico nas nuvens. Teus textos são um deleite.
Beijos,
Márcia
Essa música traz muitas recordações. É linda.
Velha conhecida.
Afinal, as lembranças a dois têm sempre duas formas de acontecer...
Não é mesmo?
A.G.
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