Se houvesse esperança seria uma menina de uns nove anos, brincando com seu cachorro na praça ensolarada. Seria domingo e eu estaria com calças frouxas e mãos nos bolsos. Estaria de óculos escuros e uns trocados no bolso. Surgida de trás de uma árvore ela viria desdizer o que eu sabia sobre a luz do sol. Ela seria a parte mais importante do dia. Se houvesse uma única possibilidade de eu existir completo, seriam dela meus horários todos das manhãs de domingo. Aconteceria de não tomarmos café apenas para enfrentar juntos, a fome de manhã cedo. Se houvesse o que dizer de todos os outros quadros que não pintei, deveria dizer que não o fiz por causa dela. Não por ela estar ou atrapalhar ou algo assim. Mas porque ela se foi. Se houvesse a importância dos séculos neste desenho. Se houvesse uma ponta de um prego em minha sola. Se houvesse um minúsculo habitante em minha impressão digital, saberia que ela me deixou descuidado, indefeso, esperando que o mundo acabasse comigo. Mas além de toda a presença, ela me fez estar mais próximo de mim do que eu jamais estive antes. J.M.N.
Para ler escutando…
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