quarta-feira, 9 de junho de 2010

Melancolia

Ontem ao chegar a casa chorei. Chorei um choro desconhecido, com pedras e foices e olhos no além. Chorei estes quilômetros de solidão que me distanciam das coisas intransferíveis do dia-a-dia: contas a pagar, ligações de trabalho, cuidados com o corpo.
Estava só e inconsolável.
Ninguém ouvia.
Ninguém tratou de meus pulmões cansados.
Estive por horas, entregue ao respirar dependente que este tipo de choro nos causa. Uma vontade de extinguir o passado e causar juventudes nos braços que me elegeram para ser amado. Nasciam, entretanto, estas linhas. Nasciam fugitivas da constância dos hábitos.
Foi como não me estivesse. Mas sentisse.
Ontem ao chegar a meu endereço, não conhecia os caminhos, não sabia o nome das ruas, não sabia diferenciar noite e dia. Cheguei, portanto, em segredo, acuado na razão sozinha de compreender destinos e utilizar o inevitável traçado deste momento.
A voz dela, a dizer que eu devo suportar meus feitos, passar calado pelos gritos ferozes do mundo que me assiste, ecoava perfeita, lícita. Uma sentença, um dogma. Reconhecer-se comum e desvirtuado, estúpido e envolvido em crimes de paixão e morte tem seu preço.
Escuto alguém num chamar distante.
Um fino som que me ata ao presente.
O choro persiste, mas de repente, não é por falta de aviso ou revés de sorte. É o justo momento em que se encontram: meu ser inteiro e a certeza de que foi feito para isso.
Tudo tem um preço, afinal. J.M.N.

4 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo... muito triste, mas lindo. Como, aliás, são os grandes poemas de amor.

Marcela.

Anônimo disse...

fico impressionada a cada dia com seus textos,como me identifico com eles, meus sentimentos e pensamentos.

carlosbrito disse...

Pô Netão, perfeito, fiquei até emocionado..abraços
Carlos "Canhão"

José Mattos disse...

Grande Dr. Brito,

Sinto falta de nossos encontros casuais pela noite de Belém. Onde andas meu amigo?

Abraço,

J.Mattos