De noite ele cheirava a rua. Tinha um ar de concreto. Cansado, enfadado pela rotina. Chegava e tomava banho. Passava uma hora inteira até que ele me aparecesse com um ar renovado. Eu ficava esperando ao pé da escada. Um sentimento de urgência. Os braços abertos esperando o que quer que ele viesse me oferecer. E a casa começava a recender a sândalo, cabelo molhado e a roupas recém-tiradas do armário. Seu abraço era macio e envolvente como nenhum outro. Rápido me suspendia no ar e me fazia serpentear como se eu fosse dona de toda a sua atenção. Demorei tanto tempo para encontrar essa mesma sensação em outros braços. Demorou mais tempo ainda para me convencer que jamais seria dona de nada. Como não sou dona de mim. Mas aquele cheiro de amor e entrega paira e me fortalece. Todas as vezes que eu estou apaixonada é disso que me lembro. É isso que busco. Com a força de quem busca a salvação. Amor como aquele, jamais haverei de querer maior. J.M.N.
3 comentários:
... (suspiro)
Esse me incomodou bastante.
Tem uma coisa de relação com objetos impossíveis, sei lá.
Amei, mas fiquei meio "empatada" nesse, devo confessar.
RV
Pois eu gostei. Acho interessante o narrador feminino numa cabeça masculina. Chico (Buarque) escreveu/compôs canções lindíssimas em que a mulher não era o objeto, mas sim o sujeito. Curioso e encantador.
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