Fraturou-se toda, a saudade. Espatifada no chão depois do amparo da mesa onde lia e reescrevia antigas cartas abandonadas. O pior suicídio em palavras. Regurgitar sobre os humores melhorados o que não se disse. Lá estava ela enfeitando chão aos mil pedacinhos, como os astros da velha canção. Porém estes, se pisados, não dão versos, mas sim sangue sob os passos. A saudade em cacos me faz evitar sair de onde estou. Começa a chover. A madrugada criando forma para dizer que também sente a fome do tempo lhe roendo as entranhas. Difícil este abrigar de todas as saudades e lendas do mundo e mais além. Ocorrem meninos extemporâneos no portão a gritar: voltem para quem os largou em casas alheias. Voltem para o princípio, pedaços crus de saudade estilhaçada. A forma antes dessa saudade, não me lembro, mas finalmente levanto e passo a unir as pontas, os cumes primeiro, que o pontiagudo já superado pode dar lume para os novos pedaços voltarem aos seus lugares. Para quê superar a noite e o choro longo de uma terra que abriga o choro do mundo todo? Isso tudo me socorre bem antes do tempo em que sei, a saudade cobrará seus dobrões mais valiosos. Sentado num pedaço de chão limpo, olhando os cacos, penso feliz que tudo me volta. E a chuva da madrugada me faz sorrir, afinal. Deixei as cartas desamparadas no mesmo canto. Tudo em volta, uma imensidão de paciência e amor aos pedaços. J.M.N.
Belém, 02 de maio de 2011.
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