quinta-feira, 19 de maio de 2011

O que mais cabe?

Dentro do vaso cabem as plantas, a água de molhar raízes, uns bichos que revolvem a terra, a vida vegetal que se multiplica entre os limites. Cabe o espanto das paredes da casa que lutam para manter as pessoas juntas, entregues à melhor maneira de se quererem, servindo de abrigo, suportando o peso de passos truncados nas manhãs ranzinzas.

Dentro da xícara cabe um último gole de chá, seu aroma morrendo fininho depois do beijo abandonar a borda da louça. Cabe nesse frágil tempo minha devoção inteira por cada coisa que é tua, que define e aumenta a aclamação de meu organismo por tua presença oculta, diferença de espaço e tempo de mim aqui.

Dentro do muro cabe um excerto de liberdade, um quilombo ou um gueto. Cabe na alvenaria que impede a saída o visgo de plantinhas minúsculas que rompem o cerco para trazer alento aos olhos que explodem dentro das cercanias do cárcere. Cabe no muro que define as geografias, um bilhete e o furo de transpassar mensagens. Amores nascendo entre fronteiras.

Dentro dessa distância, do tempo que passamos alheios aos abraços de vida eterna que trocávamos, cabe ainda o mesmo amor cruzeiro. Cuja regra galáctica aponta horizontes perfeitos, impensáveis. Cabe no que escrevo três ou mais vidas inteiras. Cabe Alexandria e seus segredos, a guerra fria, a madona dos rochedos. E tudo isso é ainda muito menor do que cabe em mim, quando te beijo. J.M.N.

8 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, delicado... Uma declaração de amor???

Kátia fagundes disse...

Neto,

Seu texto é lâmina de luz delicada e intensa, que devasta as miúdezas do cotidiano e inunda meus dias de poesia e inspiração.
Vício bom esse, te visitar....
Um beijo

Kátia Fagundes

Wagner Dias Caldeira disse...

Cabe também nessa vela o teu vento acostumado a desarrumar tudo por aqui. Cabe a trégua dele dentro de sentimentos viscerais vestidos de cristal e renda, como nesse texto lindo que soprou lânguido como quem só quer ficar à deriva de outrem. Cabe dizer que a saudade é grande, da tua sacada onde compartilhamos a acidez e a tristeza, dos caminhos sem rumo e rumos sem caminho. Cabe dizer que sinto falta de quem me faz gostar do impossível. WDC

Iva Rothe disse...

Belíssimo!
Obrigada pelo convite e pelo presente desse texto aromático e expansor de horizontes logo na chegada.

Anônimo disse...

Ese texto e amor, puro amor. Lindo de ler e viver se for possivel...

Beta

José Mattos disse...

Kátia,

Venha sempre.

J.Mattos

José Mattos disse...

Caro irmão,

Aquela scada não tem olho pra muita coisa esses tempos. Ainda procurando... Sei que encontro. Nem que seja em linhas infinitas, nas trajetórias sépias de um amor passado ou na voracidade de um temor pelo novo. Nessas fronteiras eu ando, nessas fronteiras fico feliz em ser tua companhia.

Anônimo disse...

Nossa muito inspirado e inspirador esse texto. Lindo mesmo, Neto.