Ela tinha um mundo nas mãos de tão concentrada que estava entre a canção fina que saia de sua boca e a borboleta enjaulada na delicadeza dos dedos em arco. Toda a frágil consistência de sua pessoa e do mundo inteiro na figura pacata que esperava a mãe para seguir viagem.
Aquele som de delicadíssima nota tornando-se cheiro para o humor de todos em volta. Uma felicidade matinal nascida dentro daquela imagem irretocável de sozinha dela.
Abrem-se suas mãos. Uma liberdade batendo asas saiu dali. Seu canto aumenta como naturalmente um grito de socorro, parece. E uma repetição agoniada se inicia. Ela se embala em si mesma, num ritmo agora desconexo. As pessoas migram para seu incômodo e todos olham direto aos olhos que já não estão lá.
Vem a mãe com um suco e um pão. Ela recusa. A canção agora é de aflição. Talvez medo. Um Danúbio saindo de onde antes era só calma. As pessoas mais frágeis que ela se inquietam, alucinam. Todos querem cuidar de sua explosão corpórea. A mãe sussurra-lhe algo e levanta.
Vem bem rapidinho trazendo algo amarelo sol entre os dedos.
A menina baixa o tom, mas não sorri. Acalma-se e estende as mãos à mão da mãe. Outra borboleta no seu sorriso não acontecido. Ela canta ao sol daquelas asas. Todos em voltam silenciam e sentam nos bancos ou deitam sobre as malas. A música recomeça. São seis e meia da manhã. A estrada para muitos será longa.
Para a menina apenas mais uma. Sua liberdade canta sobre as asas paradas da borboleta. Nada mais há para entender nessa entrega. Todos são apenas sorrisos e admiração. J.M.N.
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