terça-feira, 17 de maio de 2011

Invisível

“Com que suave doçura me levantas do leito
em que sonhava profundas plantações perfumadas,
passeias os dedos pela pele
e me desenhas no espaço, desequilibrado […]”

Julio Cortazar

Eloquente essa lembrança. Incrível como no segundo em que a realidade aconteceu. Plantavas esse teu impressionante fogo entre minha sobras, pois que já me tinhas desenhado para além do possível. Eu sonhava com cardumes de outros sonhos. Entrementes esperava a serpente me trazer um prêmio. Teus dedos desenhando minhas formas humanas. Era o teu outro acordando em linhas imaginárias e gargantas a minha forma, a minha voz para dizer apenas o que querias ouvir. Desse engodo transido em carne e língua e veneno, nasceu-me um verso único e triste. Aquela pequena solidão me convidou às pressas, voltei a mim. E enquanto dormias entre as hélices de teus bombardeiros e veículos de fuga, ia vendo nascer sob a tua respiração aquilo que eu não conseguia dominar. Aquele sopro exclusivo que te alçava a nebulosas perdidas. Não foi medo, nem desistência. Um dia, simplesmente acordei. Desde então a novidade do gosto, a delícia de uma boca que me quer por inteiro e do avesso. Do que me lembro daqueles dias, entre as cinzas e as sobras de mim, vem-me esse nada gigante e sereno, para o qual pergunto: quem era ela, afinal? J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Será que não seria melhor perguntar que você queria que fosse?