quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cartas a ninguém (26.05.2011 – 10:37 a.m.)

Caro amigo,

Parabéns pelo feito! Pude sentir daqui o desamparo dos medos tentando chegar aos teus sonhos e fugindo ante as certezas que agora povoam teu inconsciente. Essa hora estava esperando por ti, desde os tempos dos caracóis olhando as pedras até sê-las.

Saudações pela descoberta, pela inaudita insolvência das culpas tardias, as quais, afinal, foram-se. Não sem tempo, não sem suores e rejeição a substitutos. Agora progrides dentro do que efetivamente és – um sonhador. Ilusionista que vive à deriva desse grande outro que não tem, mas crias porque senão, não cabes por aqui.

Felicidades irmão! Pelo açoite aos monstros do armário que praticavam a antiga arte de ofender os amores, evitar proximidades e espreitar tuas angústias quando no fim das contas era apenas solidão e tristeza no beijo. Pele deitada antes do adeus. O latejar de agora não é mais no membro perdido, mas sim na carne de agora, na soma controversa do homem e do desejo.

Soberania camarada! Muitos irão dizer que és um traidor e que pouco tens que dizer aos demais, porém agora tens apelo para andorinhas e bem-te-vis. Volta ao chão das tuas memórias e não rosna, agradece, entrementes, pela difusa praga de saber demais sobre os arroubos do vazio e das superações do estar-se.

Avante desertor! Terás cadeira cativa dentre os frouxos, os alcaguetes. Aqueles seres indevidos que se prezam por apontar e vivem de dedo em riste indicando, nos outros, o que não podem eles mesmos. Serás espelho de impossibilidades e tanto quanto saber-se livre saber-te-ás indesejável pela notória escravidão dos servis.

Temo por tua integridade física é bem verdade, porém saberei se te implodires quando daí não vier mais os risos evocativos das eras, as descobertas ilustres dos tontos poetas: lâmpadas para melodias, envelopes para beijos com saudade enviados de volta à memória do que deveria ter sido e não foi... porque foi muito melhor... porque foi teu.

Sinceramente,

J.Mattos

Nenhum comentário: