domingo, 20 de junho de 2010

Como musgo na pedra

“Volver a los diecisiete
Después de vivir un siglo
Es como descifrar signos
Sin ser sabio competente
Volver a ser de repente
Tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo
Como un niño frente a Dios
Es esto que siento yo
En este instante profundo”

Volver a los diecisiete – Violeta Parra

Ela me prende há meses. Um olhar apenas, uma coincidência de lugar. De tão curto e esmerado o pertencer instantâneo dos olhos foi tudo quanto bastou para o animal enfurecido que me habita dar ciência de sua existência. E mesmo com a fome guardada, mesmo recém saído da jaula, pousou-me um sentir profundo. Palmo a pequeno palmo o furor converteu-se em uma crescente manhã de verão, luz e calor constantes, o verde dos musgos atados na eternidade das pedras por todo lado. Por sobre meu mundo, por sobre a obscuridade daquilo que ainda pendia de mim feito um último ligamento que junta os músculos aos ossos. Aquela presença dela se fazendo em todo ar de meu escafandro e em todo momento sozinho diante das forças enigmáticas que me mantém acordado desde que meus portos sumiram. Sem que ela soubesse, habitava devagarinho os desolados cantos de minha espera com tamanha gentileza, sua imagem cada vez mais próxima e cristalina. E finalmente estivemos próximos o suficiente para uma dúzia de confissões, para sentir descarrilados os corpos, numa história que não diz mais que uma dança e um telefonema. E ao mesmo tempo já diz tanto. E sinto que ainda não dissemos tudo. Sinto que as janelas apenas foram destrancadas para os quintais de um refúgio que se insinua novidade e memória. Como saber do que está no peito dela, com a mesma certeza de que já esteve em mim bem antes de suas possibilidades. E, de minha parte, saber para onde volto e procuro os traços de estados suspensos e surpreendentes, feito os amores que temos aos dezessete anos de idade. J.M.N.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não tenho mais dezessete anos, mas estou sentindo algo que não senti nem nos 17. Talvez amor, talvez paixão, acho que amor é sempre amor seja em qualquer idade, ele sempre nos faz sentir mais vivos.

Anônimo disse...

Lindo texto. Denso, porém suave. Forte, porém terno. Coisa de poeta mesmo.
Ou de alma apaixonada?

Bjs.

Anônimo disse...

Esse texto traz um quê de coisa pura. Amor de infância... Lindo mesmo.

Mel.