A verdade é que não voltei. Tornei-me um viajante, inscrito no espaço e no tempo das distâncias percorridas. Alimentado por elas, as distâncias, é que pude definir melhor o que me representava o ficar. Uma espécie de exercício de inexistência ou coisa semelhante. Circunstâncias de perdas, memórias e outras invenções fadadas ao esquecimento. De noite é que dói mais. Especialmente naquelas em que sabia que poderias estar ao meu lado e não estás. Não sei se ainda lembras de mim. Por cá, nem teu cheiro nem a tua imagem desapareceram. Queria estar contigo. Nas noites duras a escuridão me salva, pois traz consigo tua imagem incandescida. Não quero luz outra senão essa. A tua. Meus olhos ainda são capazes de criar truques. Termino acreditando que ainda me olhas fortuitamente. Dói lembrar. Não parece que foi ontem. Talvez eu esteja contente pois que as fotos de agora são digitais. Não envelhecem como casinhas abandonadas numa eternidade de papel e tinta. Minhas eternidades portáteis estão por todos os lados. Especialmente aquelas que te trazem infinita. Quero que essa distância se encurte. Quero a dormência dos teus braços que apenas suponho. Não ouso pensar em aindas. Meus dias são frutas colhidas. Ficar é perder-se em demasia. Voltar é melhor que seja logo, pois o amor, como os sinos longínquos, acerca-se de almas passageiras. Longe ou perto, as orações não se escutam, nem se resultam os pedidos de perdão. O amor, como o tivemos quando juntos, agora se entristece como se fosse apenas um costume que pela vida inteira não se teve. É isso que resta? É disso que são feitos os dias de alegrias sozinhas? J.M.N
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