terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sala de Espera, Portão 22

Hoje estou presente em meio a despedidas, contemplando minhas fugas repetidas numa espécie de tempo em suspensão, gradativamente mais longo, como um solstício. Os olhos como lagos. Os braços perdidos, à procura de sei lá o quê e todas as certezas desfeitas.
Pensei de repente, salas de espera são lugares nulos, inválidos no espaço-tempo. As vidas indo e vindo. Cá estou eu, envolto por uma multidão de desconhecidos. Parece, porém, que eles me conhecem, tão concentrados que estão em mim.
Não me atrevo a perguntar-lhes o porquê. Temo as respostas e, ademais, não tenho outras perguntas que justifiquem uma conversa.
O chá me acalma, mas essa impressão de ser reconhecido não.
Lembrei de você quando terminei o romance sobre a obra de Tomaso Albinoni e decidi que o Adágio tão discutido é dele mesmo.
Veneza é ancestral em tudo.
Depois dos canais, minha primeira vez em Roma perpetuou um cheiro de história. Cantarolei alegre um conhecido verso que diz a vida só se dá pra quem se deu. Agora eu tenho certeza sobre isso.
Depois deste devaneio, o que resta de fato é a vida nua e crua das chegadas e partidas. Vou deixar no bloco de notas os rabiscos sobre a Cistina e sobre a aparição repentina do amor, num beco obscuro de la cità. Tenho que ir, mas não quero.
A pergunta que vale um milhão: ainda tenho lugar na tua vida?
Fica bem e cuida das nossas coisas. Meus chinelos ficaram atrás da porta, esquente-os de vez em quando.
Meus pés vão sempre se lembrar dos teus. Saudades daquilo que está por vir. Histórias de amor e andamentos lentos, como num Adágio antigo.

J.Mattos
Malpensa, junho de 2005.

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