segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Não deixe que as sombras detenham a aurora

Sobre a música Coles Corner - Richard Hawley

Costumávamos entrar no carro e seguir sem destino. Era sempre tarde da noite. Em volta de nós a vida abundante de nossa terra natal, escondendo suas terríveis e belas histórias entre sorrisos e pessoas prontas para conquistar o mundo, mesmo que entre mesas de bar e assaltos à mão armada. Nós dois abraçando o infinito das descobertas diárias e lembrando de coisas que ainda não nos pertenciam. E cantávamos. E ríamos da envergadura dos teus braços abertos sobre minha visão de motorista, prevendo que se morrêssemos ali, estaria tudo bem.

Íamos sempre atrás da madrugada como anjos prestes a desistir da eternidade. Os céus haveriam de entender, não era assim?

Enquanto não ouvíssemos as canções que cumpriam nossas paixões mais escancaradas, não dormíamos e raramente escutávamos aqueles hinos achados em conjunto, apenas uma vez. Queríamos ir atrás das pessoas, nossas mãos estiradas fora do carro, cortando o vento como adagas e protegendo nossa intimidade daqueles mais afoitos, como armas de guerra. E havia sempre os sorrisos e a cumplicidade de escolhermos as músicas imaginadas um pelo outro. Ora aqui, ora em Marte, nos abandonávamos na impressão de que éramos inesgotáveis. Talvez sejamos.

Na última vez que partimos nesses ritual de encontro e comunhão, quando me avisaste que o dia estava amanhecendo, ouvíamos a música que prometi cantar a ti quando entrasses definitivamente em minha vida. Lembro que olhei para o teu rosto feliz e pedi em prece silenciosa para que o clima fosse gentil conosco e que as sombras não detivessem nossa aurora. E naquele momento tive a impressão de que seria atendido. J.M.N

 

Para ler escutando...

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